sábado, 28 de fevereiro de 2009

Resguardo

Do meu passado, querida
eu que sei dos rastros.

De agora em diante
continua como está nosso marasmo.

A escada ao ombro,
a bolsa no outro -
e óculos de lentes progressivas
colados no majestoso focinho leptorrino.

Mas a vida maravilhosa, baby.
Não se engane com meu sorriso opaco.

Para lhe ser sincero -
pode chover canivetes
ou bundinhas de tanajura.

Meu negócio é morrer no peito,
deslizar suavemente,
deixar pingar duas vezes
e mandar pro fundo da rede.

Sempre fiz golaços.

Imagine agora, querida
com essa alma tosca e aveludada
que teima em acompanhar minhas costas.

Por falar em costas,
tive de tomar altas doses de potássio.

É que além de não conseguir apanhar o sabonete
também era impedido de entrar na minha lâmpada mágica.

Ora, você sabe -
Pelo menos um dia por semana
preciso saber como vão as coisas lá dentro.

Não confio naquele sultão de cavanhaque.
Também aquela feiticeira não é boa isca.

Ambos tramam a morte do nosso Guia.
Não me diga que estou vendo fantasmas.

É a pura verdade -
aquele sultão inconveniente
mais aquela feiticeira maquiavélica
cochicham pelos cantos.

Reparou nos rabos?

Eu não quero perder meu Guia.

É um pobre coitado, sei -
mas é vital sua existência
para que a vida brilhe
em tempo de chuva.

Depois de exterminar a última raça
do mosquito da dengue,
eu me mando.

Espere-me com aquela camisola dourada.
Estarei equilibrado e voraz.

Guarde esta missiva
com apreço -

É a nossa cápsula
antes dos sonhos.

Eu leio e cochilo,
você lê e ronca -

E nosso filho assiste
a filmes de terror.

Perfeito, querida.
Na santa paz e misericórdia.

Amém.

2 comentários:

  1. Esse é o tipo de poema que deve ser resguardado mesmo, para que a gente possa mostrar para os netos quais são os faróis na tempestade.

    abraços, irmão

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  2. Perfeito, poeta
    Na santa poesia do dia-a-dia
    Amém

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