Do meu passado, querida
eu que sei dos rastros.
De agora em diante
continua como está nosso marasmo.
A escada ao ombro,
a bolsa no outro -
e óculos de lentes progressivas
colados no majestoso focinho leptorrino.
Mas a vida maravilhosa, baby.
Não se engane com meu sorriso opaco.
Para lhe ser sincero -
pode chover canivetes
ou bundinhas de tanajura.
Meu negócio é morrer no peito,
deslizar suavemente,
deixar pingar duas vezes
e mandar pro fundo da rede.
Sempre fiz golaços.
Imagine agora, querida
com essa alma tosca e aveludada
que teima em acompanhar minhas costas.
Por falar em costas,
tive de tomar altas doses de potássio.
É que além de não conseguir apanhar o sabonete
também era impedido de entrar na minha lâmpada mágica.
Ora, você sabe -
Pelo menos um dia por semana
preciso saber como vão as coisas lá dentro.
Não confio naquele sultão de cavanhaque.
Também aquela feiticeira não é boa isca.
Ambos tramam a morte do nosso Guia.
Não me diga que estou vendo fantasmas.
É a pura verdade -
aquele sultão inconveniente
mais aquela feiticeira maquiavélica
cochicham pelos cantos.
Reparou nos rabos?
Eu não quero perder meu Guia.
É um pobre coitado, sei -
mas é vital sua existência
para que a vida brilhe
em tempo de chuva.
Depois de exterminar a última raça
do mosquito da dengue,
eu me mando.
Espere-me com aquela camisola dourada.
Estarei equilibrado e voraz.
Guarde esta missiva
com apreço -
É a nossa cápsula
antes dos sonhos.
Eu leio e cochilo,
você lê e ronca -
E nosso filho assiste
a filmes de terror.
Perfeito, querida.
Na santa paz e misericórdia.
Amém.
Esse é o tipo de poema que deve ser resguardado mesmo, para que a gente possa mostrar para os netos quais são os faróis na tempestade.
ResponderExcluirabraços, irmão
Perfeito, poeta
ResponderExcluirNa santa poesia do dia-a-dia
Amém