Amigos leitores, achei interessante postar este texto, porque o mesmo apesar de tratar da realidade da educação e de uma IES do Estado de São Paulo, nos permite fazer um paralelo com o que vêm acontecendo aqui no Ceará, e principalmente no Crato. Se você substituir as localidade pelo Crato, os atores e a IES, você se sentirá realmente no Crato.
Afinal, o que é Educação? Podemos discernir uma breve definição que dará conta do que pretendemos dizer neste pequeno artigo. Educação é um processo que – através da assimilação de conhecimentos sistematizados, a partir da aferição junto aos anseios da comunidade – objetiva a formação de cidadãos conscientes e participativos que se voltam para a mesma comunidade e, num processo dialético constante, explicitam as contradições da realidade, revendo aqueles conhecimentos e contribuindo para a formação de uma sociedade mais justa e um ser humano mais acabado, isto é, pessoas que saibam conviver com a incompletude, eternamente aprendendo, transcendendo e se realizando na tensão indivíduo/coletividade, como Homens Integrais e plenos de consciência e vitalidade. Dissemos quase tudo nesta breve síntese? Seria melhor enfatizar um ingrediente fundamental: a felicidade. Sim, a Educação deve servir para atingirmos um estágio superior que só se revelará como tal na superação das nossas contradições e, pelo menos, das carências básicas. Felicidade é/implica (processo e produto) superação e transcendência.
Deveríamos, de fato, às portas do terceiro milênio, ter superado muita coisa, como fizeram outras nações. No entanto, apesar de sermos a quinta economia mundial, convivemos com a miséria, uma enorme massa de excluídos, deseducados, escandalosas discrepâncias sociais, corrupção institucionalizada etc., etc. Falhamos, não é verdade? Somos uma nação de terceira categoria? Somos gentinha ordinária que merece os governantes corruptos que se sucedem no poder? Ao contrário, prefiro entender a realidade como um processo histórico e ideológico que pode ser superado. Temos, de fato, no nosso passado, a reiteração de elites retrógradas que encontraram em terras brasílicas um clima favorável para vicejar: a índole pacífica e conformada do povo brasileiro, do homem que sorri apesar de irrealizado, como observou Mário de Andrade.
Nossas especificidades nacionais mantiveram vivas as velhas oligarquias, sobreviventes em metamorfoses camaleônicas (apesar da pós-modernidade e da sociedade globalizada): foram mudando de siglas partidárias e robustecendo seu eficiente (mas doentio) coronelismo. O voto de cabresto e os currais eleitorais tomaram configurações mais profundas e mais perversas. Ora, a educação seria o meio de superação desse estágio primitivo. Mas (e aqui atingimos o ponto fulcral da questão) foi justamente agindo no espaço educacional institucionalizado – a escola – que esses senhores mantiveram seu feudo, quebraram a espinha dorsal do sistema educacional, nutriram o subdesenvolvimento e enriqueceram com ele.
Tenho uma historinha e um exemplo deste fenômeno. Aliás, dele fiz parte. Presidente Prudente, no interior de São Paulo (um microcosmo) convive com um exemplar magnifico desta espécie de coronel da modernidade. Não há nenhum modelo tão significativo na literatura (talvez o milionário Wundershaft, da peça de Shaw). Refiro-me ao dono da universidade do oeste paulista, agora prefeito. Figura poderosíssima nos meios políticos, que enriqueceu ajudando a promover o esfacelamento do ensino público e gratuito. (É só um pequeno exemplo: há muitos como ele. Isto é apenas um retrato). Agiu na formação de uma geração, promovendo o que sintetizaremos aqui como deseducação, que se constitui na alienação dos valores que configura o Homem Integral. Neste mundo, de fato, parafraseando o poeta, “não dá pra ser feliz”.
A universidade do oeste paulista possui cursos em todas as áreas. Antigamente era conhecida pela sigla apec e seu núcleo envolvia os cursos voltados para a formação de professores: letras, história, geografia, matemática, etc. Tais cursos eram de baixíssima qualidade e os professores, na sua maioria, despreparados. Bem, a situação se mantém a mesma. O escândalo, no entanto, se evidencia no desmonte que promovem à estrutura curricular estabelecida pelo ministério da educação e cultura aos respectivos cursos. Eu explico. O curso de letras, por exemplo, fica exprimido em três anos (em outras Universidades são de quatro anos) e, para atender ao currículo mínimo do mec, há aulas de segunda a sábado (seis aulas na sexta e seis no sábado) que deveriam ser assistidas por todos os alunos. Está aí a tramóia. Criaram-se (informalmente) duas turmas: uma de segunda à quinta-feira e outra de sexta-feira e sábado. Portanto, por um lado, cada aluno tem a metade do mínimo; por outro, os lucros, ao empreende-dor, chegam em dobro. No final do curso, no histórico escolar do aluno, constarão muito mais aulas que na verdade ele teve. Apesar da tentativa desesperada de alguns professores e alunos de manter algumas prerrogativas éticas (valores pessoais lutando sofregamente para suprir a falha institucional), as aulas são oferecidas em condições extremamente insatisfatórias. É incrível, quase inverossímil, que tal situação se sustente por décadas.
Os prejuízos para a Educação, neste quadro caótico (que pode ser confirmado por alunos e professores da unoeste), são devastadores. Professores despreparados, currículo diminuído e valores distorcidos estão na base da formação de outros professores que, por sua vez, vão ocupar as escolas públicas e garantir a continuidade e o alastramento desta poderosa chaga cancerosa, criando a enorme porcentagem de miseráveis e excluídos, inclusive, do espírito de cidadania como já nos referimos. É isto, por fim: escola… deseducação… infelicidade… carência substituindo transcendência.
Não estamos discutindo aqui a legalidade do procedimento da universidade do oeste paulista, nem a conivência ou respaldo do ministério da educação e cultura. Estamos afirmando que são instituições minúsculas, e, sem dúvida, avalizadoras da nossa situação de subdesenvolvimento. O mais triste é que não se configura nenhuma perspectiva de mudança. Quase nenhuma, tendo em vista a vitória eleitoral (espantosa contradição) deste gênio do poder (negação do fenômeno humano) que resgatou a velha fórmula, evidentemente condenável, dando-lhe feições de modernosidade: plantar ignorância e colher votos.
Por - Dante Gatto Professor da UNEMAT, Campus de Tangará da Serra (MT)
Toda instituição, repartição ou comunidade utiliza – nas redações – algumas siglas internas (o conhecido jargão) que são desconhecidos para outras as pessoas de fora desse ambiente.
ResponderExcluirÉ o caso desse “IES”.
Penso que 90% dos que lêem este blog não sabem o que é uma “IES”.
IES é a abreviatura de “Instituição de Ensino Superior”, jargão muito usado internamente na URCA e desconhecido para o resto das pessoas que não integram aquela comunidade.
Recentemente a mídia da Inglaterra proibiu o uso de certas expressões usadas apenas no âmbito interno das instituições e repartições públicas inglesas.
A proposta foi é acabar com a bizarra mania das pessoas falarem certas expressões internas que nada dizem para o público exerno, tornando assim a comunicação mais efetiva.
Lembro-me de, certo dia, à época que fui funcionário do BNB, chegou um cliente no balcão com um cheque de outro banco e pediu para pagar uma prestação de um empréstimo. Um zeloso funcionário respondeu:
– Hoje é impossível fazer esse lançamento, pois é balanço semestral e o DEFIN só aceita comando extra-contábil em CASH já que o DERUR fez a atualização do saldo devedor para efeito de apuração de resultado.
O matuto arregalou os olhos (ele não sabia o que era DEFIN, CASH, DERUR, Apuração do Resultado) e saiu sem compreender patavina do que o burocrata havia dito...