domingo, 8 de março de 2009

Maria Candelária

Puta velha cansada de guerra
Mas que um dia foi uma formosura
Na flor nem sempre pura da idade
Objeto de desejo de todos
Consumida pela boa sociedade
Bela flor que viveu no meio do lixo
Entre torrentes de gosmas e líquidos
Alvo de ódio das madames de Aracaju
Maria Candelária
Por querer ingenuamente
Tomar chá e sorvete no lado bom da cidade
Certa vez quis assistir a uma sessão de cinema
Foi parar no xilindró

Vai, Maria, ser puta na vida
Mas não atrapalhe as dondocas com seu trottoir!

Maria Candelária
Ao contrário da marchinha de Blecaute
Não é funcionária pública muito menos vigarista
Não é apadrinhada, nunca o foi
Sempre esteve mais para a chiquita
Do filme de Emílio Fernandez
Pois apesar de ter nascido na extrema pobreza
E ter vivido seus dias de glória
Tinha que se submeter aos desejos dos homens ricos

Maria Candelária, finalmente
Perdeu a beleza da mocidade
Não usa mais sapatos altos nem tecidos finos
Não faz mais programas que o ofício exigia
Ganhou, porém, notoriedade e programas de tv
Hoje é líder das prostitutas de Sergipe
Ela agora usa as palavras em vez do corpo
E encanta pela inteligência com que fala
Enquanto os falos que a consumiu
Estão todos mortos ou flácidos
Ela faz uma promessa em tom solene
Jamais deixará uma puta morta
Ser enterrada sem a proteção de um ataúde
Disse isso muito emocionada
Depois de lembrar da mãe que morreu tísica
E foi enterrada envolta em um lençol

Um comentário:

  1. Boa poesia esta lançada e Maria Candelária se tornou um mito e virou nome na praça. Ela viveu em uma época em q ser protistuta era um tabu e discriminação tremenda, isso nos anos 60 p,ra traz, a ponto de, se soubessem q a mulher era protistuta não entraria de jeioto nenhum em um meio social e mesmo em hospedar-se num hotel. Candelária passou por esses tabus a ponto de revidar de uma forma fisicamente falando p,ra após ser detida pela polícia, embora seje solta depois. Hj a coisa mudou mais: a protistuta respeitou aonde chegar, é tudo tranquilo. Aqueles tempos eram tempos dourados, as noites eram tranquilas e não tinha o fantasma do assaltante.

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