Este texto é minha homenagem ao debate. Áqueles que não aceitam passivamente por verdades azeitadas ou grosseiras. Especialmente a dois conterrâneos dos quais tenho muito orgulho de igualmente ser-lhes contemporâneo: José Flávio e Armando Rafael.
A discussão, quer queiramos ou não, envolve a prática do aborto. É nesta perspectiva que evolui, com a contaminação emocional adotada pelo "destemparado" arcebispo. Um retorno: a palavra destemperado que foi grafada entre aspas é para chamar atenção para o seu real valor, aquela que nega a temperança. Num momento errado e com um assunto errado(uma criança estuprada com gravidez gemelar). Mais aprofundou o cisma entre os católicos do que entre ateus, agnósticos ou quem não é religioso e aquele que é. Para estes a atitude do bispo não atinge, mas para ex-católicos, que ainda guardam a raiz de sua cultura, para católicos que estiveram junto à reformas desde Vaticano II, isso foi uma paulada e é o que ocorre.
Por isso, para que não fiquemos num eterno embate dos prós e contras, de "outras visões", vou apresentar frases de um texto de Cândido Mendes, um dos grandes pensadores brasileiros, católico de alta profundidade filosófica e religiosa, irmão de um dos grandes bispos da igreja. Vamos às frases (quem tiver interesse o artigo foi publicado no O Globo no dia de hoje):
a) O título do artigo é Exílio e este se refere à própria instituição Igreja, leiamos a frase no final do artigo: "De toda forma, não é o autoritarismo das repetições que nos leva à frente, mas a densidade da consciência que vai à aposta da fé, e a discernir, como nos assinalou Alceu Amoroso Lima, na maturidade do laicato do país mais católico do globo. Continuaremos a sê-lo, tanto a igreja resista a seu exílio no seio do povo de Deus."
b) Vale ressaltar que Cândido Mendes faz um diálogo entre o código canônico e o que chamou "sinais do tempo a que lhe urgiu o Vaticano II". Pois foi aí que se verificou que "a inoportunidade da palavra pesa, tanto reflita a assintonia com o laicato à sua escuta, e ávido à leitura da esperança no contexto de nossos dias". Neste sentido já não tem peso o acompanhamento das palavras do Dom José pela CNBB e pelo Vaticano pois "o que importa sempre é o nervo da mensagem para um aqui e agora, em que a fé avança com a esperança e, mais que o dogma, vai à consciência, e faz do cristianismo uma religião da liberdade."
c) Vale dizer que este diálogo de Cândido Mendes com os "sinais do tempo" realça a reação negativa da Europa à postura do bispo e lembrou ao autor o mesmo fenômeno da encíclica "Humanae Vitae" de Paulo VI que condenava os anticoncepcionais e que foi desobedecida "por 60% dos católicos do velho mundo".
d)Deste modo Cândido Mendes contextualiza o tema do Exílio desta forma: "A palavra de Dom José via ao extremo oposto de toda reflexão sobre um "aqui e agora" e de toda nova problemática teológica e filosófica dos limites - e das transformações da vida - em que entramos na complexidade inédita de nosso tempo. Ela é nossa como a encarnação".
e) Esta é a contribuição ao debate de um materialista dialético em processo dialógico com as contradições de seu tempo.
A discussão, quer queiramos ou não, envolve a prática do aborto. É nesta perspectiva que evolui, com a contaminação emocional adotada pelo "destemparado" arcebispo. Um retorno: a palavra destemperado que foi grafada entre aspas é para chamar atenção para o seu real valor, aquela que nega a temperança. Num momento errado e com um assunto errado(uma criança estuprada com gravidez gemelar). Mais aprofundou o cisma entre os católicos do que entre ateus, agnósticos ou quem não é religioso e aquele que é. Para estes a atitude do bispo não atinge, mas para ex-católicos, que ainda guardam a raiz de sua cultura, para católicos que estiveram junto à reformas desde Vaticano II, isso foi uma paulada e é o que ocorre.
Por isso, para que não fiquemos num eterno embate dos prós e contras, de "outras visões", vou apresentar frases de um texto de Cândido Mendes, um dos grandes pensadores brasileiros, católico de alta profundidade filosófica e religiosa, irmão de um dos grandes bispos da igreja. Vamos às frases (quem tiver interesse o artigo foi publicado no O Globo no dia de hoje):
a) O título do artigo é Exílio e este se refere à própria instituição Igreja, leiamos a frase no final do artigo: "De toda forma, não é o autoritarismo das repetições que nos leva à frente, mas a densidade da consciência que vai à aposta da fé, e a discernir, como nos assinalou Alceu Amoroso Lima, na maturidade do laicato do país mais católico do globo. Continuaremos a sê-lo, tanto a igreja resista a seu exílio no seio do povo de Deus."
b) Vale ressaltar que Cândido Mendes faz um diálogo entre o código canônico e o que chamou "sinais do tempo a que lhe urgiu o Vaticano II". Pois foi aí que se verificou que "a inoportunidade da palavra pesa, tanto reflita a assintonia com o laicato à sua escuta, e ávido à leitura da esperança no contexto de nossos dias". Neste sentido já não tem peso o acompanhamento das palavras do Dom José pela CNBB e pelo Vaticano pois "o que importa sempre é o nervo da mensagem para um aqui e agora, em que a fé avança com a esperança e, mais que o dogma, vai à consciência, e faz do cristianismo uma religião da liberdade."
c) Vale dizer que este diálogo de Cândido Mendes com os "sinais do tempo" realça a reação negativa da Europa à postura do bispo e lembrou ao autor o mesmo fenômeno da encíclica "Humanae Vitae" de Paulo VI que condenava os anticoncepcionais e que foi desobedecida "por 60% dos católicos do velho mundo".
d)Deste modo Cândido Mendes contextualiza o tema do Exílio desta forma: "A palavra de Dom José via ao extremo oposto de toda reflexão sobre um "aqui e agora" e de toda nova problemática teológica e filosófica dos limites - e das transformações da vida - em que entramos na complexidade inédita de nosso tempo. Ela é nossa como a encarnação".
e) Esta é a contribuição ao debate de um materialista dialético em processo dialógico com as contradições de seu tempo.
Meu caro José do Vale,
ResponderExcluir(só não digo "Caro Dedé" porque os abortistas estão aplicando o "dom Dedé" ao arcebispo usando o "Dedé" de forma depreciativa e não como carinhosamente sempre tratamos os Josés por quem temos estima)
Louvo a sua transparência e sinceridade.
Você se autodefine como um “materialista dialético em processo dialógico com as contradições do seu tempo”.
Penso que a dialética não é só pensamento: é pensamento e realidade a um só tempo. E entendo que o “dialógico” pressupõe a propositura de um debate, um diálogo, nestes tempos confusos. Aqui entra a realidade. Concisamente.
Todos sabemos que a Igreja Católica não vai abdicar de um de seus princípios internos, oriundo do século I, consolidado numa norma contrária ao aborto – um documento chamado Didaché – que sintetiza: "Não matarás o embrião por aborto e não farás perecer o recém-nascido".
No caso específico do aborto realizado por uma equipe médica em Recife acredito que o fato vem sendo fulanizado – propositadamente – visando aproveitar o fato (que mexe com o emocional das pessoas) com o intuito de popularizar a proposta de aprovação do aborto irrestrito no Brasil. As forças pró-aborto têm em mãos diversas pesquisas que mostram a quase totalidade do povo brasileiro contrário ao aborto. A proposta já foi derrotada duas vezes no Congresso Nacional e custou a eleição de Jandira Feghali ao Senado em 2006. (Ele foi a relatora da proposta).
Melhor momento não poderia ter ocorrido – para o assunto voltar à baila – do que aquele de Recife. Uma criança de 9 anos é abusada pelo amante da relapsa mãe (a imprensa chama “padrasto”) que resulta numa gravidez de gêmeos. A equipe médica faz, à socapa, o aborto após artimanhas de organizações abortistas de Pernambuco.
O arcebispo não excomungou ninguém. Mesmo porque quem pratica ou contribui para um aborto é excomungado automaticamente cfe. Código de Direito Canônico.
Está armado o circo. O grande vilão passa a ser o arcebispo que nem conhecia a menina, sequer sabia o nome dela. Não se fala mais no homem que abusou da menina (a imprensa chama de “estupro” para “legalizar” o aborto cfe. Código Civil), nem na mãe relapso que deixou o amante abusar de duas filhas (a outra é louca), nem na equipe médica que fez o aborto, nem nas organizações abortistas que fizeram o auê.
O culpado de tudo isso? O arcebispo de Recife, dom José Cardoso Sobrinho.
Só isso. O resto é proselitismo.
Esta a minha opinião.
Com elevado apreço e admiração de sempre,
Armando
Claro, Armando, que não se fala mais no estruprador. Dedé ( o outro) claramente o inocentou. Excomungou a equipe, a mãe da menina ( e como bom Cristão não é bom julgá-la como vc fez, impondo culpa e não desconhecimento no seu ato) , mas ao estruprador ele mesmo disse que era um crime menor e não passível de excomunhão. Os verdadeiros criminosos eram os médico que cumporiram uma decisão judicial e a mãe. Por que Dedé não teve a coragem de excomungar o juiz que autorizou o aborto ? Se ele não o tivesse feito, não teria se realizado e nosso piedoso bispo poderia celebrar a missa de corpo presente da mãe e dos dois filhos que certamente, claro, iriam diretamente para o céu. Cada vez mais, Armando, ficam do mesmo lado apenas Dedé ( o outro) e você. Dê uma olhadinha nos blogs da vida e vejam quantos católicos , estatisticamente, claro, têm a mesama visão de vcs dois! O Vaticano e a CNBB, é bom lembrar, já correram da reta.
ResponderExcluirJosé Flávio,
ResponderExcluirSegui seu conselho. Olhei os blogs.
Nenhuma novidade. Aliás, no ACI-digital está o artigo de Dom Fisichella que foi, inicialmente, mostrado como contrário ao Arcebispo de Recife. Na verdade foi uma interpretação apressada.
A ver:
Dom Rino Fisichella pede que menina submetida a aborto não seja instrumento de propaganda anti-vida
Certa imprensa recolheu o artigo de Dom Fisichella, e o difundiu como uma suposta condenação à excomunhão dos envolvidos no duplo aborto da menina –no que a pequena não teve nenhuma responsabilidade– quando no texto, o Prelado vaticano lembra o mesmo que assinalou o Arcebispo de Recife: "o aborto provocado sempre foi condenado pela lei moral como um ato intrinsecamente mau e este ensinamento permanece imutável em nossos dias dos começos da Igreja".
ROMA, 16 Mar. 09 / 02:27 pm (ACI).- O Presidente da Pontifícia Academia para a Vida, Dom Rino Fisichella, precisou que a menina de 9 anos de idade submetida a um aborto no Brasil, necessitava proteção e cuidado, em lugar de ser convertida em um instrumento da propaganda anti-vida.
No artigo publicado em L'Osservatore Romano, o Arcebispo explica que "Carmen", nome fictício da pequena, "foi violentada repetidamente pelo jovem padrasto, ficou grávida de gêmeos e não terá mais uma vida fácil. A ferida é profunda porque a violência totalmente gratuita a destruiu por dentro e dificilmente lhe permitirá no futuro olhar aos outros com amor".
"No caso de Carmen –prossegue– se encontraram a vida e a morte. Por causa da novíssima idade e das condições de saúde precárias sua vida estava em sério perigo pela gravidez. Como atuar nestes casos? Decisão árdua para o médico e para a mesma lei moral. Decisões como esta, inclusive com uma casuística diferente, repetem-se cotidianamente nas salas de reanimação e a consciência do médico se encontra sozinha consigo mesma no ato de dever decidir que é o melhor por fazer".
Diante destes desafios, diz logo o Arcebispo, "Carmen colocou novamente um caso moral entre os mais delicados" que deve tratar-se com atenção. "Como cada caso singular e concreto, merece ser analisado em sua peculiaridade, sem generalizações" considerando que "a moral católica tem princípios dos que não pode prescindir, inclusive se assim o quiser".
"A defesa da vida humana desde sua concepção pertence a uns destes e se justifica pela sacralidade da existência. De fato, todo ser humano, do primeiro instante leva impressa em si a imagem do Criador, e por isso estamos convencidos que devemos reconhecer a dignidade e os direitos de toda pessoa, considerando antes que todo seu intangibilidade e inviolabilidade", precisa Dom Fisichella.
Certa imprensa recolheu o artigo de Dom Fisichella, e o difundiu como uma suposta condenação à excomunhão dos envolvidos no duplo aborto da menina –no que a pequena não teve nenhuma responsabilidade– quando no texto, o Prelado vaticano lembra o mesmo que assinalou o Arcebispo de Recife: "o aborto provocado sempre foi condenado pela lei moral como um ato intrinsecamente mau e este ensinamento permanece imutável em nossos dias dos começos da Igreja".
O Presidente da Pontifícia Academia para a Vida precisa em seu artigo que "o Concílio Vaticano II na Gaudium et spes –documento de grande abertura sobre o mundo contemporânea– uma de maneira inesperada palavras inequívocas e muito duros contra o aborto direto. A mesma colaboração formal constitui uma culpa grave que, quando é realizada, conduz de modo automático a ficar fora da comunidade cristã. Tecnicamente, o Código de Direito Canônico usa a expressão latae sententiae para indicar que a excomunhão opera imediatamente no momento em que o fato (o aborto) ocorre.