domingo, 8 de março de 2009

O leiteiro Pai Velho - Por Pedro Esmeraldo

No decorrer da década de 30 do século passado, apareceu um senhor gordo, estatura mediana, tez branca, para trabalhar como agregado na agricultura. Vindo da Paraíba, naturalmente da cidade de Princesa Isabel, no período de 1910, para se estabelecer em Juazeiro do Norte.
Era homem de feição atlética, destemido, astucioso, constituído de humildade espetacular, deixava todo mundo admirado pela sua capacidade de trabalho.
Participou de lutas armadas nos períodos áureos das revoltas sanguinárias do Nordeste. Pertenceu à falange do senhor José Pereira, o revoltoso conhecido no Nordeste. Lutou com bravura na Sedição de Juazeiro, ao lado do doutor Floro Bartolomeu. Quando terminou a revolta dessa cidade, o senhor Severino Moreira dos Santos, conhecido no meio das revoltosas, tornou-se nômade, até quando chegou ao engenho do meu pai e obteve o oficio de leiteiro. Devido a sua astúcia e honestidade, com muita capacidade de trabalho, foi um senhor respeitado e querido pelo meu pai. No início, gostava de tomar uns porres exagerados, mas meu pai o chamou à atenção, fazendo com que ele suspendesse a bebida até o fim da vida, a não ser com pequenas doses em períodos festivos. Permaneceu por cerca de mais de 20 anos na venda de leite, sem faltar um dia sequer, até mesmo nos períodos mais críticos das épocas chuvosas. Como era o mais velho da turma de venda de leite, recebeu carinhosamente o apelido de Pai Velho, apelido esse que permaneceu até o final de sua vida.
No ano 1948, acometido de fortes dores, causadas pelo reumatismo, teve de abandonar a venda de leite, indo morar no vizinho estado de Pernambuco, na cidade de Bodocó. Lá comprou uma gleba de terra e foi trabalhar na agricultura no cultivo de algodão.
Jamais se afastou do meu pai. Foi um exímio agricultor, trabalhando sem parar até perto de sua morte, no ano 1986, com quase 100 anos de idade.
Pai Velho foi um senhor muito dedicado aos amigos, nunca deixou dúvidas; sabia separar o joio do trigo; atendia às necessidades de todos, quando era preciso. Brincalhão, fleugmático, não se zangava por qualquer brincadeira, mas sabia retribuir aos amigos com palavras jocosas, com muita sinceridade.
Pai Velho foi um cidadão que serve de exemplo para a juventude de hoje. Foi um esteio que demonstrava dar bons exemplos às pessoas que seriam engrandecidas, através de comportamento exemplar.
Humilde, perseverante, homem dessa estirpe é difícil encontrar, nos tempos de hoje, no meio das camadas desvairadas do século XXI.

POR PEDRO ESMERALDO

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