sexta-feira, 20 de março de 2009

O mito do neoliberalismo. (2)

Paulo Roberto de Almeida, grande cientista social e economista, escreve algumas notas rápidas sobre o que comumente é passado de forma errônea nas universidades sobre o neoliberalismo. De forma clara e objetiva, ele nos remete a uma série de reflexões sobre a problemática em questão. Vejamos ao longo de cinco postagens os erros mais comuns:
2. As novas roupas do velho imperialismo, em sua fase neoliberal.
Deparei-me, num típico volume que deve figurar entre as leituras obrigatórias ou recomendadas de vários cursos dentro dessa área, com a seguinte afirmação:
“...o produto social da globalização, o neoliberalismo tem sido o mais dramático possível. Em pouco tempo esse novo regime de acumulação desagregou sociedades, tornou os ricos mais ricos e ampliou a pobreza em praticamente todos os cantos do mundo, especialmente as nações da periferia, onde a barbárie social vem esgarçando o tecido social e incrementando a violência em todos os sentidos.” (autor: Edmilson Costa; artigo: “Para onde vai o capitalismo? Ensaio sobre a globalização neoliberal e a nova fase do imperialismo”; in Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari (coord.), Relações Internacionais: Múltiplas Dimensões; São Paulo: Aduaneiras, 2004, p. 201-233; cf. p. 206.)
Existe ainda outra frase extraída do mesmo artigo que me parece adequada ao propósito de avaliar criticamente o mito do neoliberalismo em certo pensamento acadêmico contemporâneo, embora esta acima me pareça uma perfeita síntese de tudo o que existe de equivocado e falacioso no “pensamento” universitário em torno desse conceito onipresente e polivalente. Vejamos em todo caso o complemento ideal a ela:
“O neoliberalismo é a síntese de todo esse processo de mudanças profundas que estão ocorrendo no sistema capitalista: funciona como uma espécie de gerenciador ideológico, político, econômico, social e cultural dessa nova fase do imperialismo. Trata-se de uma ideologia primitiva para os tempos atuais, com postulados do século XVIII e meados do XIX, época do capitalismo concorrencial, mas com um apelo espantoso ao senso comum. A ideologia neoliberal procura manipular os sentimentos mais atrasados das massas, revigorando os preconceitos, açulando o individualismo, distorcendo o significado das coisas, reduzindo os fenômenos à sua aparência, de forma a ganhar os corações e mentes para o jogo do livre mercado e da livre iniciativa.” (Idem, op. cit., p. 219)
Não vale a pena alertar para a incoerência de se destacar o caráter “primitivo” de uma ideologia que, sendo de meados do século XIX, tem mais ou menos o mesmo grau de “primitivismo” que o marxismo, nem para a inconsistência de se vincular a defesa do livre mercado e da livre iniciativa a “sentimentos atrasados das massas”, já que a mesma ideologia estaria, supostamente, “açulando o individualismo”. Pedir um mínimo de coerência analítica seria exigir demais de um autor que, manifestamente, distorce o “significado das coisas”, reduz o fenômeno do liberalismo à sua aparência, com o provável objetivo de ganhar os corações e mentes de alguns estudantes para o livre jogo dos seus argumentos ilusórios. Passemos, portanto, a examinar cada uma das partes dessas afirmações, elas mesmas espantosas, em relação ao neoliberalismo, com a atenção que nos requer este exemplo consumado de fraude intelectual (se é verdade que este último adjetivo se aplica ao caso em questão).

3 comentários:

  1. Antônio Sávio:
    O artigo de Maílson da Nóbrega – ver acima – me pareceu eludidativo.
    Durante décadas (e mesmo nos dias de hoje) os defensores da presença do Estado controlando a economia pregavam o socialismo como uma panacéia. Onde ele foi implantado foi um fracasso completo. Apesar dos defeitos da presença da livre iniciativa, esta ainda é a fórmula “menos ruim” para trazer o progresso aos povos.
    A queda do socialismo real veio mostrar ao mundo o fracasso da economia planificada. Para mim a maior lição de melhoria no padrão de vida dos povos foi dada pelos países da Europa que integram a União Européia. Sabe-se que após a crise do petróleo de 1973, as elites pensantes desses países começaram a defender a idéia de que o governo não tinha mais condições de manter os pesados investimentos que haviam realizado após a II Guerra Mundial. Não só não podiam como isso acarretava problemas vários.
    O Estado é sempre mau gestor. E a presença maciça do Estado na economia tinha acarretado pesados déficits públicos, balanças comerciais negativas, além de inflação. Começou-se a defender a redução da ação do Estado na economia. Essas idéias ganharam força depois que os conservadores foram vitoriosos nas eleições de 1979 na Inglaterra- escolhendo Margareth Thatcher como primeira ministra. A consolidação veio em 1980, com a eleição de Ronald Reagan para a presidência dos EUA. Desde então passou-se a defender que o Estado passasse apenas a preservar a ordem política e econômica, deixando as empresas privadas livres para investirem como quisessem. Além disso, os Estados passaram a desregulamentar e a privatizar inúmeras atividades econômicas antes controladas por eles.
    Hoje quando falam no patrimônio da Vale do Rio Doce dizem “ e isso tudo foi vendido a preço de banana”. Ledo engano. Quando estava nas mãos do Estado, a Vale estava sem dinheiro até para comprar equipamentos. O que tinha muito era diretorias. Todas em mãos de políticos que compunham a deplorável “Base do Governo”. Em mãos competentes, a Vale cresceu até chegar a ser a maior mineradora do mundo.
    Isso ocorreu também com as outras atividades que foram privatizadas no Brasil. Um ex. comprar uma linha telefônica podia durar um ano. Hoje, em qualquer cidade do Brasil você compra uma linha – sem burocracia – em poucos minutos...
    Divido os que são contra o neoliberalismo em dias classes: os que são mal-intencionados (vivem a passar uma idéia falsa do neoliberalismo enganando os incautos) e os que não sabem nada sobre o que se convencionou chamar de “neoliberalismo”. Este, na prática, é a aplicação das idéias dos pensadores monetaristas, com ênfase para as idéias de Milton Friedman (norte-americano) e Friedrich August Von Hayek (inglês). Com algumas falhas, mas com muitas vantagens....

    ResponderExcluir
  2. E por falar em fracasso dos regimes socialistas veja a notícia abaixo que a grande mídia silenciou:

    "Conab manda arroz gaúcho para famintos cubanos

    Informa o site gaúcho “Polibio Braga on-line”: “Partiu do porto de Rio Grande para Cuba um navio carregado com 19,4 mil toneladas de arroz, adquiridos pela Companhia Nacional de Abastecimento. É uma doação do governo brasileiro ao governo de Fidel Castro. O embarque foi mantido sob total reserva. Não se tem conhecimento de remessas parecidas para as regiões mais carentes do Brasil [...]. Depois que perdeu a mesada da União Soviética, o governo cubano passou a viver de esmolas e restos de comida. A comida é racionada em Cuba”.
    Também o BNDES abriu uma linha de crédito de 150 milhões de dólares para financiamento de exportações de bens e serviços para Cuba".

    ResponderExcluir
  3. Armando temos um buraco conceitual enorme. Aliás, nem sei se poderíamos falar que é um buraco conceitual uma vez que o conceito existe, mas, infelizmente não é estudado. O que venho postando aqui tem um forte embasamento teórico de economistas como Hayek tantos outros mais atuais, continuadores da escola austríca que por ventura andam a tentar fazê-la evoluir epistemologicamente. Entre eles também temos Charles Johnson, Steven Horwitz, Bruce Benson, Ludwig Lachmann entre tantos outros.

    ResponderExcluir