Por Reinaldo Azevedo
Há coisas que você jamais vai ler na imprensa brasileira porque, dada a sua “isenção” de propaganda, às vezes letal para a inteligência e a verdade, pouco importa a consideração de uma autoridade científica ou religiosa se o que elas dizem não coincide com a metafísica politicamente correta. Aceita-se a chamada pluralidade, mas sem exageros, é claro. Querem ver?Vocês se lembram que, em Camarões — e, de fato, foi uma mensagem para o continente africano —, o papa Bento 16 afirmou que a distribuição maciça de camisinhas não era o melhor programa de combate à AIDS. E disse que o problema poderia até se agravar. A estupidez militante logo entendeu, ou fingiu entender, que Sua Santidade contestara a eficiência do preservativo para barrar a transmissão do vírus. Bento 16 não tratava desse assunto, mas de coisa mais ampla. Referia-se a políticas públicas de combate à expansão da doença. Apanhou de todo lado. De todo mundo. No Brasil, noticiou-se a coisa com ares de escândalo. Os valentes nem mesmo investigaram os números no Brasil — a contaminação continua alta e EM ALTA em alguns grupos — e no mundo. Adiante.
Se você pesquisar um pouco, vai saber que o médico e antropólogo Edward Green (foto) é uma das maiores autoridades mundiais no estudo das formas de combate à expansão da AIDS. Ele é diretor do Projeto de Investigação e Prevenção da AIDS (APRP, na sigla em inglês), do Centro de Estudos sobre População e Desenvolvimento de Harvard. Pois bem. Green concedeu uma entrevista sobre o tema. E o que ele disse? O PAPA ESTÁ CERTO. AS EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS CONFIRMAM O QUE DIZ SUA SANTIDADE. Ora, como pode o papa estar certo? Vamos sonegar essa informação dos leitores.Em entrevista aos sites National Review Online (NRO) e Ilsuodiario.net, Green afirma que as evidências que existem apontam que a distribuição em massa de camisinha não é eficiente para reduzir a contaminação na África. Na verdade, ao NRO, ele afirmou que não havia uma relação consistente entre tal política e a diminuição da contaminação. Ao Ilsuodiario, assumiu claramente a posição do papa — e, notem bem!, ele fala como cientista, como estudioso, não como religioso: “O que nós vemos de fato é uma associação entre o crescimento do uso da camisinha e um aumento da AIDS. Não sabemos todas as razões. Em parte, isso pode acontecer por causa do que chamamos ‘risco compensação” — literalmente, nas palavras dele ao NRO: “Quando alguém usa uma tecnologia de redução de risco, freqüentemente perde o benefício (dessa redução).
correndo mais riscos do que aquele que não a usa”.Pois é… Green também afirma que o chamado programa ABC — abstinência, fidelidade e, sim, camisinha (se necessário), que está em curso em Uganda — tem-se mostrado eficiente para diminuir a contaminação. E diz que o grande fator para a queda é a redução de parceiros sexuais. Que coisa, não?NÃO É MESMO INCRÍVEL QUE SEXO MAIS RESPONSÁVEL CONTRIBUA PRA DIMINUIR OS CASOS DE CONTAMINAÇÃO? Pois é... Critico as campanhas de combate à aids no Brasil desde o Primeira Leitura, como sabem. E, aqui, desde o primeiro dia. Há textos às pencas no arquivo. A petralhada que se pensa cheia de veneno e picardia erótica gritava: “Você quer impor seu padrão religioso ao país...” Ou então: “Você não gosta de sexo...”
Pois é. Vai ver Harvard escolheu um idiota católico e sexofóbico para dirigir o programa...Bento 16 apanhou que deu gosto. E apanhou pelo que não disse — e ele jamais disse que a camisinha facilita a contaminação de um indivíduo em particular — e pelo que disse: a AIDS é, sim, uma doença associada ao comportamento de risco e, pois, às escolhas individuais. Sem que se mude esse compartamento, nada feito.Pois é... O mundo moderno não aceita que as pessoas possam ter escolhas. Como já escrevi aqui certa feita, transformaram a camisinha numa nova ética. E, como tal, ela é de uma escandalosa ineficiência.
Grande Armando: o texto do Reinaldo é muito mais a esgrima dele com quem o criticou num certo momento do que uma defesa de uma tese que afinal não se encontra no contexto do que ele diz ter sido dito pelo professor de Havard. Vamos à questão: a camisinha e sua distribuição gratuita é sim uma forma mecânica eficiente de controle da transmissão da AIDS e nenhuma família deve se desviar desta orientação aos jovens. E é tanto verdade (não vou ficar aqui detalhando o que se sabe sobre o papel da camisinha em relação ao tamanho do vírus) que em Uganda ela é um elemento vital do programa. Não vamos desviar da questão: a camisinha. O sexo responsável é uma forcação argumentativa do Reinaldo, não é disso que se trata é de uma questão antiga em Saúde Pública, que aliás veio de forma até exagerada do setor de seguros, migrou até mesmo para as análises econômica, que se chama Moral Hazard (veio dos anglo-saxões e é o que se chama em português Risco Moral que nada tem que ver com moral no sentido usual). O que é o Risco Moral? As pessoas ao se sentirem mais seguras ampliam o próprios riscos. Isso se verifica por exemplo em seguros de automóveis e eis a justicativa de se introduzir aquela cooparticipação no sinistro. O que o pesquisador de Harvard diz e que está sendo usado pelo Reinaldo é que programas de prevenção de doenças envolvem educação para saúde, recursos técnicos-científicos e avaliações sistemáticas para que brechas que sempre surgirão sejam controladas.
ResponderExcluirSobre a declaraçao de Bento XVI, a forma como a mídia mundial, não os desafetos do Reinaldo, deu foi de uma frase em que claramente havia a condenação da camisinha e claro, aí o papa errou feio, poderia ser mal utilizada num contexto de risco moral (não porque a camisinha não funcione, mas em razão de práticas que permitem a transmissão do vírus por outras vías não protegidas ou em razão de mal uso que são tantos na prática social). O papa erra na escala mesma entre um fator mecânico (a camisinha) e a sexualidade como é exercida em todo o mundo. A fala do papa foi muito mais na condenação desta sexualidade. E foi esta fala abertamente criticada em toda a Europa, não apenas pelos desafetos do Reinaldo.
Volto a insistir no risco deste tipo afoito de defesa e ataque do Reinaldo. A defesa tem tanto risco quanto o ataque. Não podemos deixar de falar para a sociedade a importância do sexo seguro (que não é o mesmo que exigir monogamia), o uso da camisinha e, claro, em sinal de dúvida, procurar um serviço de saúde para realizar exames, pois a AIDS é uma epidemia ainda em evolução, mata, mas tem hoje medicação bastante eficiente para o seu controle. E finalmente uma questão ética, o aidético não é um pária sexual e tampouco social.
Caro Armando,
ResponderExcluirMesmo que o Reinaldo estivesse certo , ficaria difícil acreditar justamente por conta da folha corrida da Igreja em questões ligadas diretamente à Ciência. Que o digam : Darwin, Galileu, Copérnico, Giordano Bruno,Titus Brake e tantos outros, muitos inclusive imolados por conta das suas descobertas. Se a Bíblia fosse um livro de Ciência e não de religião ainda hoje pensaríamos que a Terra é o Centro do Universo, que todo o universo foi feito em 7 dias e por aí vai. Mesmo que Reinaldo acredite nisso , ele é um átomo no meio da multidão. E os demais cientistas não são ouvidos nem têm voz? Apenas ele sabe de tudo? Sem nenhuma hipocrisia, que católico praticante tem a coragem, hoje, de avisar aos filhos para não usar camisinha na crença que eles permanecerão virgens até o casamento e monogâmicos a partir daí ? E mais que suas parceiras ( que inclusive podem professar outras crenças) também manterão a mesma conduta ? Se nem os padres conseguem esse feito, na sua grande maioria, serão os adolescentes, em plena liberalidade sexual, com os hormônios saindo pela tampa, que obrarão este milagre? Com isso vê-se como a igreja anda atrasada nos seus conceitos. Que casal católico praticante, hoje, tem dor de consciência quando usa anticoncepcionais, quando coloca DIU, quando faz ligação de trompa, quando faz vasectomia ? Este estágio já foi transposto, ao meu ver. Ninguém mais precisa consultar o pastor em questões tão pequenas. As duas últimas notícias são de um transexual grávido na Espanha e de um casal de lésbicas que vão ser mães em São Paulo ! Enquanto isso nosso Bento anda discutindo o uso da camisinha...E digo mais a você, ele não tem consenso dentro da sua p´ropria Igreja. A grande maioria dos padres não faz apologia contra o uso da camisinha, mantém um silêncio obsequioso, sabe que diante da epidemia que se vive e do bem maior que devia ser a preservação da vida, isso tudo é uma questão menor. A Juventude hitlerista e o Santo Ofíco marcaram muito o nosso Bento !
Pelo que entendi o Papa Bento XVI, afirmou – em síntese – que quanto mais se faz propaganda de sexo seguro, tanto mais se induz a juventude ao risco de contrair AIDS.
ResponderExcluirApenas isso.
Segundo o Papa, muito mais profícuo é apregoar controle sexual e abstinência de relação sexuais extraconjugais. O que não se constitui novidade, pois há muito esta é a orientação da Igreja Católica aos seus féis. Claro que, em relação a esta orientação, segue quem quer...
Acrescento uma novidade que está sendo divulgada pelas agências de notícias:
Segundo Jacques Suaudeau, médico da Universidade de Lyon (França), o preservativo, por mais que tenha sido aprimorado pela indústria (utilizando látex mais adequado), é incapaz de garantir sexo seguro. Na verdade ele é, em média, 10% falho. Esta porcentagem pode variar nas diversas pesquisas, pois depende do estilo de vida dos grupos pesquisados; há os que se arriscam mais, como existem grupos menos avançados que restringem a promiscuidade sexual, o número de parceiros, as práticas homossexuais... Diz textualmente Suaudeau: “Não existe autêntico safe Sex fora da fidelidade conjugal, a qual torna inútil o preservativo”.
Grande Armando: a questão do papa como bem dizes não é a discussão mecânica da camisinha no sexo seguro. Agora o problema da AIDS é real, quantitativamente e qualitativamente, como fica um casal monogâmico em que um dos parceiros se contaminou por via sanguínea? Por isso na realidade do mundo é necessária a "misericórdia" não apenas como um ato de demonstração da grandeza espiritual que convenhamos pode ser apenas uma autopromoção. É preciso que a solidariedade seja qualificada com a particularidade de cada um, com a natureza variada de uma doença que se transmite pessoas a pessoa a partir de suas partes biológicas. Só para voltar o grande problema que este tipo de esgrima trás, veja a tuberculose, hoje sabemos de sua transmissão aérea, mas já teve tempo de preconceitos enorme com o tuberculoso e o que não se dizer do leproso. Armando, como reconheço em você uma mente aberta, só queria ponderar que até naquilo que temos de maior convicção, precisamentos tratar com a emergência de novas coisas e com a variedade do mundo.
ResponderExcluirCaro Armando,
ResponderExcluirEntendo o que o Sumo Pontífice disse, mas claro que que isso atinge a total utopia. Imaginar que os adolescentes de hoje permanecerão virgens até o casamento e monogâmicos a partir daí... Se nem os padres conseguem ! Utilizando os mesmo princípios seria facílimo fazer política de saúde prevenyiva no mundo:
1- Para comabter a Hepatite A que é uma doença infecto-contagiosa transmitida por via hídrica é simples : ninguém deve mais tomar água;
2- Para prevenir a Dengue é simples. Pode deixar o mosquito se reproduzir à vontde, é só não deixar que ele lhe píque;
3- Planejamento familiar é facílimo, apenas deve-se abster de sexo.
4- Tenho certeza absoluta que nenhum dos católicos praticantes que conheço têm a coragem de pregar este método fabuloso papal para seus filhos. Todos mandam usar camisinha e ficam bem caladinhos.
5- Claro que não existe método infalível e a camisinha , todo mundo sabe, não é 100% segura, agora qual o nível de segurança real do método proposto pelo Papa?
O pior de tudo é que quanto alguém das suas hostes é acometido pela AIDS ( e já acompanhei casos assim) são totalmente abandonados pelos seus pares, segregados e escondidos a sete chaves. No fundo, todos riem e dizem de si para si : "Tá vendo no que dá andar pecando por aí !" Precisamos de mais compaixão e menos hipocrisia neste mundo .
Utilizando o mesmo método papal de combate às doenças, a pedofilia nas hostes da Igreja está perfeitamente solucionada é só se dirigir a todos os sacerdotes e dizer : " A partir de hoje, meus pastores, vcs vão deixar os cabritinhos e a as ovelhinhas quietas, combinado ? "
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