sexta-feira, 3 de abril de 2009
"Palavras de sal"
De que são tais palavras? De sal
no céu róseo da boca quebrada.
Elas dormem no canto, meninas,
e têm medo da chuva nas telhas.
Elas doem no estômago, doem.
Elas virgens reviram o centro
de si mesmas sem dó. Elas não são
para um peito, digamos, de nuvens,
com textura de suave algodão.
Elas ferem e fazem um cerco
contra os olhos que fogem nas asas
amarelas do pássaro-sonho,
a certeza de dias sem culpa
na cidade por onde vão os velhos
casarões repousar os seus restos,
na memória dos mortos, dos vivos.
Elas fedem no chão. Tanto faz.
Elas ferem com facas nos dentes.
Ai de mim, que fiquei na beirada
do sentido, sentindo que dava
para crer nas camadas envoltas
de perigos não vistos ao olhar
excitado por coisas lavradas
com a luz, um lamento por tudo
que se perde na dura e difícil
caminhada do verbo por dentro
ou por baixo da pele no sono.
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