Os brasileiros quando assistem de cadeira de balanço à invasão do Iraque , ao extermínio dos afegãos, às lutas fratricidas do continente africano ou aos conflitos envolvendo Israel e árabes, no Oriente Médio deviam ao menos perceber que a briga lhes diz respeito. De alguma maneira estão sendo dizimados irmãos nossos, nestas pelejas internacionais. Não, não falo aqui biblicamente, invocando o nome de Adão, nosso pretenso ascendente comum. Os mouros têm uma profunda influência na cultura brasileira estudada por um dos maiores gênios da raça, o potiguar Luiz da Câmara Cascudo. O tempero árabe-sarraceno esteve fortemente presente no caldeirão étnico quando da cocção gradativa da identidade pátria. Somos um país único , fruto da fabulosa miscigenação de um número incontável de raças e culturas e carregamos conosco a fagulha da esperança. Ensinamos a todos a possibilidade de união dos povos, sem barreiras, sem preconceitos e que é possível sim semear a tolerância e conviver pacificamente com a diferença. No Brasil, não existe purismo, não há arianos. Qualquer um de nós , se formos revolver o passado, não chegamos à terceira geração sem que nos deparemos com nossos ascendentes na Taba, na Senzala, na Sinagoga ou na Mesquita. Nossas veias não transportam sangue azul ou negro; o prisma da nossa colonização fez o milagre da refração e cá estamos todos multicoloridos , enchendo de brilho a aquarela do nosso país. Neste aspecto, o Brasil é, estrategicamente, a nação do futuro.
No que tange à nossa influência moura ela é simplesmente enorme. Não bastasse a presença dos árabes por aqui, eles estiveram na península Ibérica durante oitocentos anos, de 661 dC até quarenta anos antes do descobrimento do Brasil. Além de tudo, influenciaram sobremaneira a Cultura Afro, um dos pedestais mais fortes da nossa etnia. As tintas árabes tingiram nossa cultura bem mais que os judeus, os ingleses, os franceses, os holandeses e os japoneses. O gênio de Luiz Câmara, em seus mais de 150 livros, deu um cascudo na maior parte dos pesquisadores do Sudeste e deve-se a ele o descobrimento do Brasil árabe-sarraceno. No Nordeste, então, esta influência tem tintas fortíssimas. O cuscuz, o arroz doce são iguarias que deles herdamos. O hábito de comer no chão limpo, tão freqüente por aqui ,também é influência moura. Beber água depois da refeição e não durante. Os panos que as mulheres gostam de usar na cabeça e os turbantes que usam sobre os penteados. Mulher andar a cavalo ou de moto de lado e não escanchada. Fazer renda, usar leques, guarda-sóis, véus no rosto, uso de tintas nas sobrancelhas e brilho nos olhos são herança dos nossos irmãos mouros. A alpercata de rabicho é tipicamente árabe , assim como o próprio nome alpercata. O fascínio pelos doces parece também ter forte origem sarracena. Apanhar de chinela da mãe não era uma verdadeira desonra? Igualzinho a se jogar sapato no Bush ! O aboio dos nossos vaqueiros , segundo Câmara, também de lá veio, bem como o pandeiro e o tamborim que adornam nossas escolas de samba. As histórias e festas populares nordestinas estão povoadas da cultura islâmica: as Cavalhadas, o Reisado, A Chegança, o Cordel , Duelos de Espadas, os nossos Contos Infantis. “Bão-Balaão, Senhor Capitão/ Em terra de mouros , morreu seu irmão...”Há historiadores que lembram, inclusive, a semelhança entre o Afeganistão e Canudos de Antonio Conselheiro ou das hordas iraquianas com as imagens Glauberianas em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Seriam uma espécie de Afegani-sertão ? – Chegam a perguntar. Basta dar uma olhadinha em uma foto de Canudos, de Flávio de Barros, para se ficar em dúvida: não foi clicada num campo de refugiados árabe?
Existe um outro traço tão freqüente no cotidiano brasileiro de profundas raízes arábicas. O fatalismo é uma delas. “Quando a gente nasce, tudo já está determinado !” Só se falta completar com o Maktub: Estava Escrito! Nossa relação com o divino, também. Vejam os pára-choques de caminhão, o outdoor do pobre. “Deus sempre ajuda” “Dirigido por mim, guiado por Deus””Deus proteja esse carro” “Deus me Guia” . Pois não é lá no Alcorão que se lê: Allah-U-Akbar, ou seja, Deus é grande? Uma das razões de sermos um povo muito supersticioso, devemos também a eles. Tememos o trovão, o relâmpago, o gato preto, as sextas-feiras, a lua nova, o lobisomem, o vôo da coruja... Acreditamos ainda nos sonhos como orientador para o jogo do bicho. Semana passada, observei várias frases em carros aqui em Crato e percebi claramente o temor que temos com a inveja , o “Olho Gordo”. “Não me inveje, trabalhe!” “Falar de mim é fácil, difícil é ser eu” “A sua inveja faz a minha fama””A Tua inveja é minha felicidade” “Com as pedras que me atiras construirei meu castelo” “Deus te dê em dobro o que me desejas”. Pois bem, lembrei o velho Cascudo. Rogar praga a torto e a direito, imprecação, maldição é uma outra herança árabe. Praga de mãe, então, é pior do que bomba atômica. Lembram da praga materna na história do Lobisomem ? E do genial poema “Rogando Praga” do nosso Patativa?
Assim, amigos, não custa recordar que cada míssil que explode no Afeganistão de alguma maneira atinge Canudos; cada bomba que explode no Iraque bombardeia também o Caldeirão; o embate fratricida entre islâmicos e israelenses fere de morte os brasileiros. Você pode até fechar os olhos e concluir que nada tem a ver com isso. Cansado de mourejar, resolve deitar-se num sofazinho baixo e amplo, cruza as pernas e prefere ficar “na sombra e água fresca”. Tudo bem, mas não esqueça que tanto o verbo mourejar, quanto o sofazinho, o cruzado de pernas e a visão paradisíaca da sombra e da água fresca você deve à fabulosa cultura que agora mais uma vez está sendo bombardeada.
No que tange à nossa influência moura ela é simplesmente enorme. Não bastasse a presença dos árabes por aqui, eles estiveram na península Ibérica durante oitocentos anos, de 661 dC até quarenta anos antes do descobrimento do Brasil. Além de tudo, influenciaram sobremaneira a Cultura Afro, um dos pedestais mais fortes da nossa etnia. As tintas árabes tingiram nossa cultura bem mais que os judeus, os ingleses, os franceses, os holandeses e os japoneses. O gênio de Luiz Câmara, em seus mais de 150 livros, deu um cascudo na maior parte dos pesquisadores do Sudeste e deve-se a ele o descobrimento do Brasil árabe-sarraceno. No Nordeste, então, esta influência tem tintas fortíssimas. O cuscuz, o arroz doce são iguarias que deles herdamos. O hábito de comer no chão limpo, tão freqüente por aqui ,também é influência moura. Beber água depois da refeição e não durante. Os panos que as mulheres gostam de usar na cabeça e os turbantes que usam sobre os penteados. Mulher andar a cavalo ou de moto de lado e não escanchada. Fazer renda, usar leques, guarda-sóis, véus no rosto, uso de tintas nas sobrancelhas e brilho nos olhos são herança dos nossos irmãos mouros. A alpercata de rabicho é tipicamente árabe , assim como o próprio nome alpercata. O fascínio pelos doces parece também ter forte origem sarracena. Apanhar de chinela da mãe não era uma verdadeira desonra? Igualzinho a se jogar sapato no Bush ! O aboio dos nossos vaqueiros , segundo Câmara, também de lá veio, bem como o pandeiro e o tamborim que adornam nossas escolas de samba. As histórias e festas populares nordestinas estão povoadas da cultura islâmica: as Cavalhadas, o Reisado, A Chegança, o Cordel , Duelos de Espadas, os nossos Contos Infantis. “Bão-Balaão, Senhor Capitão/ Em terra de mouros , morreu seu irmão...”Há historiadores que lembram, inclusive, a semelhança entre o Afeganistão e Canudos de Antonio Conselheiro ou das hordas iraquianas com as imagens Glauberianas em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Seriam uma espécie de Afegani-sertão ? – Chegam a perguntar. Basta dar uma olhadinha em uma foto de Canudos, de Flávio de Barros, para se ficar em dúvida: não foi clicada num campo de refugiados árabe?
Existe um outro traço tão freqüente no cotidiano brasileiro de profundas raízes arábicas. O fatalismo é uma delas. “Quando a gente nasce, tudo já está determinado !” Só se falta completar com o Maktub: Estava Escrito! Nossa relação com o divino, também. Vejam os pára-choques de caminhão, o outdoor do pobre. “Deus sempre ajuda” “Dirigido por mim, guiado por Deus””Deus proteja esse carro” “Deus me Guia” . Pois não é lá no Alcorão que se lê: Allah-U-Akbar, ou seja, Deus é grande? Uma das razões de sermos um povo muito supersticioso, devemos também a eles. Tememos o trovão, o relâmpago, o gato preto, as sextas-feiras, a lua nova, o lobisomem, o vôo da coruja... Acreditamos ainda nos sonhos como orientador para o jogo do bicho. Semana passada, observei várias frases em carros aqui em Crato e percebi claramente o temor que temos com a inveja , o “Olho Gordo”. “Não me inveje, trabalhe!” “Falar de mim é fácil, difícil é ser eu” “A sua inveja faz a minha fama””A Tua inveja é minha felicidade” “Com as pedras que me atiras construirei meu castelo” “Deus te dê em dobro o que me desejas”. Pois bem, lembrei o velho Cascudo. Rogar praga a torto e a direito, imprecação, maldição é uma outra herança árabe. Praga de mãe, então, é pior do que bomba atômica. Lembram da praga materna na história do Lobisomem ? E do genial poema “Rogando Praga” do nosso Patativa?
Assim, amigos, não custa recordar que cada míssil que explode no Afeganistão de alguma maneira atinge Canudos; cada bomba que explode no Iraque bombardeia também o Caldeirão; o embate fratricida entre islâmicos e israelenses fere de morte os brasileiros. Você pode até fechar os olhos e concluir que nada tem a ver com isso. Cansado de mourejar, resolve deitar-se num sofazinho baixo e amplo, cruza as pernas e prefere ficar “na sombra e água fresca”. Tudo bem, mas não esqueça que tanto o verbo mourejar, quanto o sofazinho, o cruzado de pernas e a visão paradisíaca da sombra e da água fresca você deve à fabulosa cultura que agora mais uma vez está sendo bombardeada.
J. Flávio Vieira
Caro Zé Flavio.
ResponderExcluirSoube que v. quer fazer curso de Filosofia. Quem sabe se não Antropologia, História', Ciências Sociais...
Mas, bicho, faça não. Praquê perder o encanto de escrever ä luz da filosofia, da antropologia, da história enfim, das ciências sociais ? Pode acontecer que a técnica ofusque um pouco a leveza e beleza de seus escritos, como este de sacada levistraussiana.
Caro Zé nilton,
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, eu que andei trilhando a sua seara, meu amigo, sem a competE^ncia que vc tem. A cada dia concluo mais que a Filosofia me faz uma falta danada. Em tempos de ditadura não deixavam a gente aprender a pensar. Vou tentando correr atrás do prejuizo, mas é bem difícil. obrigado pelos comentários ao texto, eu que meti a colher de pau no seu angu.
Abraço,