quinta-feira, 11 de junho de 2009

O SIGNIFICADO DO SIGNIFICADO: A INTERPRETAÇÃO DA INTERPRETAÇÃO - A CONSCIÊNCIA DA CONSCIÊNCIA



Segundo SOLZHENITSYN (1972):
"A humanidade se tornou uma só, mas não de uma maneira firme como costumavam ser as comunidades e até as nações; não unida por anos de experiência mútua, e nem por possuir um só olho, carinhosamente denominado vesgo, e nem por um idioma nativo comum, mas pela radiofonia e pela imprensa internacionais(sic) que superam qualquer barreira. Uma avalanche de acontecimentos nos submerge - e num minuto, meio mundo ouve a ressonância. O padrão que serve para medir esses acontecimentos e avaliá-los conforme as leis de partes do mundo desconhecidas - isso tudo não pode ser transmitido pelas ondas do rádio ou através de colunas de jornais. Estes padrões amadureceram e foram assimilados durante um grande número de anos em condições por demais específicas de certos países e certas sociedades: eles não podem ser trocados pelo ar. Nas diferentes partes do mundo os homens encaram os acontecimentos pelos seus próprios padrões duramente adquiridos, e os julgam, teimosos e confiantes, unicamente pelas suas próprias escalas de valores e nunca pelas dos outros" (p.43-44).

Nossas questões são objeto de reflexão de DESCARTES (1935)nos seguintes termos:
"Quanto à utilidade que os outros tirariam dos meus pensamentos, não poderia ser muito grande, pois não os levei tão longe que não seja preciso acrescentar-lhes muitas coisas antes de aplicá-los à prática. E julgo poder dizer, sem vaidade, que, se há alguém capaz disso, devo ser eu antes de qualquer outro. Não que não possa haver no mundo muitas inteligências incomparavelmente superiores à minha, mas porque não podemos conceber e assimilar tão bem uma coisa quando aprendida de outrem como quando a inventamos nós mesmos. E isso é tão verdadeiro nessa matéria que, tendo explicado muitas vezes as minhas opiniões a pessoas bastantes cultas que, enquanto eu lhes falava, pareciam compreende-las com muita nitidez, observei que, quando as reproduziam, quase sempre as modificavam de tal maneira que eu não podia reconhecê-las como sendo minhas.
Tenho, pois, o prazer de pedir aqui, aos nossos descendentes, que não acreditem nunca no que lhes disserem como tendo partido de mim, sem que eu próprio o tenha divulgado. Não me admira que se atribuam várias extravagâncias a todos os filósofos antigos cujos escritos não possuimos. Considerando que eram as melhores inteligências do seu tempo, não creio que os seus pensamentos tenham sido tão disparatados: foram, decerto, mal transmitidos , vê-se, igualmente, que quase nunca sucedeu ter sido algum deles ultrapassado por seus adeptos" (p.86-87).

E segundo HUXLEY (1975):
"O fato de que o conhecimento está em função do ser, provoca naturalmente, um imenso acúmulo de más interpretações. A significação das palavras, por exemplo, modifica-se profundamente conforme o caráter e as experiências de quem as usa. Portanto, para o santo, palavras tais como "amor", "caridade", "compaixão", significam algo muito diferente da acepção que lhes dá o homem comum. Em consequência, para o homem comum, a declaração de Spinoza de que "a bem-aventurança não é uma recompensa da virtude, mas a própria virtude" parece simplesmente falsa. Ser virtuoso é, para ele, o mais tedioso e desencorajador dos processos. Está claro, porém, para alguém que se exercitou na bondade, que a virtude realmente é a bem-aventurança, enquanto a vida do homem comum - com seus fúteis, seus longos períodos de estouvamento animal e inconsciência - parece uma real tortura" (p.271).

Pois, conforme VERGEZ e HUISMAN (1980):
"O homem se preocupa em conhecer o mundo e atuar sobre as coisas antes de se voltar para si mesmo, de "re-fletir" sobre a fonte do conhecimento e da ação. Todo homem, entretanto, seja o mais frívolo, o mais inclinado a se esquecer na ação, a se "di-vertir", como dizia Pascal, se encontrou, mais uma vez, numa hora de dissabor, a sós consigo mesmo. Como o poeta, ele disse para si: "Eis-te aí". Os convidados já se foram, na escada já não mais ressoa o rumor de seus risos; encontramo-nos, brusca e unicamente, em face de nós mesmos. E nos interrogamos: "Quem sou?" e "Que é esse eu que existe?"
Essas duas perguntas não são idênticas e a primeira nos faz, muito facilmente, esquecer a segunda. "Quem sou?" A resposta é bastante fácil. Indicaríamos nossa profissão, nossos hábitos, nosso caráter [...] Mas tudo isso, o problema metafísico do eu não é abordado. Trata-se apenas de fazer análise do conteúdo do eu, de explorar sua personalidade, não de definir porque somos uma pessoa [...] Cada um de nós é pessoa e não coisa, sujeito e não objeto" (p.305).

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