sábado, 6 de junho de 2009

"Perdas"

"Hoy recuerdo a los muertos de mi casa" (Octavio Paz)


A cidade abriu sua boca
(nos dentes, a fúria do acaso)
de manhã, mastigou Jaques
Jaques, apenas um menino rumo ao peito
Sua mãe chorou? a catedral não desconfia

A cidade abriu sua boca
(nos dentes, a covardia)
de madrugada, mastigou Marcos
Marcos, um que muito bebia
sua mãe chorou? a grande avenida não desconfia

A cidade abriu sua boca
(nos dentes, a traição de um amigo)
de tarde, mastigou Cícero
Cícero, apenas um protético!
sua mãe chorou? os monumentos não desconfiam

A cidade abriu sua boca
(nos dentes, a ira dos motores)
A que horas mastigou júnior?
Júnior, um menino temente a Deus
sua mãe chorou? os parques não desconfiam

A cidade abriu sua boca,
(nos dentes, mais um pouco de chumbo)
antes da meia noite, mastigou Franklin
Franklin, um menino perdido na loucura
sua mãe chorou? as repartições não desconfiam

“Por quê?”, perguntaram as mães
ao que a cidade respondeu:
“enterrai vossos mortos!”

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