quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ressentimento

Depois dos olhos abertos
percebo o quarto escuro
nem tão tenebroso.

O Vazio me prende -
e tive nas mãos a chance
de abrir a janela.

Quando passar pelos canteiros
levarei no vento as antenas das formigas.

Ao tocar o sino da Catedral
o velho pardal me chamará de herege.

Serei eu apenas e as minhas asas esticadas
com todo o furor do primeiro elástico de baladeira.

Na ponta -
um oiti verde.

Meu alvo é aquela andorinha
que há muito esqueceu o canto.

Só grita,
só berra,
só tem vodu no bico.

Sei que mais tarde
as minhas asas caem sobre o formigueiro.

As formiguinhas vingativas
hão de comer minha carne

e o pardal inteligente
fará petisco da minha memória.

Nada me falem sobre aquela andorinha.
Fez-me muito mal o veneno das suas palavras.

Minhas asas logo outra tinta
outra textura
outro ruído.

Pode ser uma simples hemorroida
ou um maligno câncer.

Visível apenas a lâmina de sangue
no fundo do vaso sanitário.

2 comentários:

  1. Poeta,

    Com sua permissão, recitarei esse poema no próximo programa Cariri Encantado.

    Amplexos...

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  2. Meu dos Anjos, o pior câncer é no pensamento.
    Poeta não morre... Poeta se eterniza !

    Abraços

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