segunda-feira, 1 de junho de 2009
Retorno de aulas em latim em Nova York
O diário “The New York Times” e a revista “U.S. News & World Report” noticiaram uma avançada tendência nas escolas de nível médio e secundário americanas: aulas de latim [foto]. A tendência cresceu nas últimas duas décadas na Igreja Católica, especialmente entre jovens sacerdotes, seminaristas e leigos. Grande número deles se entusiasma lendo, ouvindo, cantando e assistindo à liturgia em latim. Grupos organizados aprofundam o canto gregoriano e o estudo da gramática latina. Um segmento importante dos jovens voltou-se para a Tradição do catolicismo, a adoração eucarística e o canto gregoriano –– comentou o site The Catholic Thing. É auspicioso esse interesse pela língua oficial da Igreja, genuína transmissora do esplendor da fé católica.
Armando: o modo como você escreveu deixou-me em dúvida. De qualquer forma tendi a interpretar assim: a moda do latim recomeçou entre grupos católicos e agora atingiu escolas de nível médio (católicas e não católicas?). Se ocorreu apenas entre católicos, isso tende a um movimento conservador anterior ao Vaticano II e às reformas litúrgicas da época. Normalmente na história estes retornos funcionam como farsa e não raro, como fenômeno social ou político, levam a tragédias. Se ocorre num campo além do universo católico, se trata de outro fenômeno de interesse mais etimológico se igualando ao Grego, por exemplo.
ResponderExcluirNão sou lá, caro José do Vale. Abaixo um artigo de Marta Clara Pitol:
ResponderExcluirLatim na ponta da língua
por Maria Clara Pitol
Falar latim nos dias de hoje parece algo inimaginável e um tanto quanto raro. Mas não é isso que tem ocorrido nos ambientes universitários. Embora considerada uma língua morta, o latim vem ressurgindo dentro das universidades brasileiras, atraindo mais estudantes de graduação e pós-graduação e, por conta disso, gerando um número bem maior de pesquisadores na área.
Não há ainda uma explicação definida para o fato. Nos últimos seis anos houve um aumento de 154% no número de alunos matriculados em Latim 1 na Universidade de São Paulo (USP).
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) não fica atrás. Em cinco anos o salto foi de 70%. A Universidade Estadual Paulista (Unesp) tem duas unidades que oferecem o curso de letras, e também registrou um crescimento de 118% na procura por literatura latina.
Aliás, o crescimento do interesse pela língua latina não acontece só em São Paulo. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) apontam que há mais alunos estudando latim na maioria das universidades brasileiras que oferecem a disciplina, como federais do Rio (UFRJ), de Juiz de Fora (UFJF) e, ainda, do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Muitos pesquisadores e professores da área apostam que a explicação pelo interesse no latim está na volta das referências greco-romanas na indústria cultural. Há muitos filmes retratando a cultura romana e livros falando da Antigüidade. Todos de fácil acesso e que podem despertar interesse e curiosidade nos alunos.
Além disso, na USP, desde 1999 foi criado um ciclo básico no curso de letras, no qual todos os alunos cursam uma disciplina de Introdução aos Estudos Clássicos. A conseqüência desse aumento da procura pelo latim aparece no aumento das pesquisas teóricas e publicações na área.
Os estudantes de letras que optam por estudar latim podem escolher entre a pesquisa, o trabalho como professor ou a área de tradução.
As três áreas parecem estar crescendo, assim como a procura pelo latim. Na verdade, acaba sendo um ciclo. Os alunos que procuram o estudo pelo latim, no futuro passam para o outro lado e tornam-se professores da língua.
“Esse aumento da procura é muito positivo. Cria-se uma demanda através do crescimento da procura. O mercado de trabalho para os profissionais depende da própria abertura da área, dessa procura, desse aumento de interesse”, conclui Fabio Cairolli.
Mas, para Cairolli, o latim vai mais além: “Como base da sua formação é um conjunto de informações muito válido, afinal, é entrar em contato com uma sociedade distante da nossa, mas que ao mesmo tempo nos formou. É uma bagagem importante para o desenvolvimento humano”.
De onde vem?
A origem do latim é indo-européia. Seus primeiros registros documentados são do século 7 a.C. Era a língua falada pelos povos da Roma Antiga e se dividia em duas modalidades: o clássico, mais complexo e usado apenas pelos homens cultos e inteligentes, inclusive poetas e filósofos; e a versão vulgar, apenas falada, usada no cotidiano e que sofria muitas variações.
A modalidade vulgar era a imposta pelos romanos aos seus povos conquistados e que acabava misturada às línguas nativas.
Com a queda do Império Romano mais o fim do ensino oficial do latim, a língua antes aprendida pelos povos tornou-se livre e acabou por dar origem às línguas neolatinas, entre elas o português.