quinta-feira, 2 de julho de 2009

Nos passos de Dom Hélder



Diário de Pernambuco ( 02/07/09)



A pergunta mais frequente ontem, no meio católico, era como ficará a Igreja depois da saída de dom José Cardoso.
Sincero nas conversas, voltado à oração e ao momento atual da Igreja, novo arcebispo assumirá em agosto.




Mesmo sem dom Fernando Saburido ter assumido o comando da arquidiocese, a terceira mais importante do Brasil, havia o consenso de que a condução da Igreja será bem diferente do modo que hoje faz dom José. Os sinais das mudanças, segundo integrantes e estudiosos da Igreja, estariam nas entrevistas de dom Fernando à imprensa e na carta aberta que ele enviou ontem ao arcebispo. A expectativa, como o futuro arcebispo enfatizou, é de que o modelo centrado nas questões internas da Igreja cede lugar ao modelo voltado às ações pastorais, o que se aproxima à forma eclesial implantada por dom Helder Camara entre 1964 e 1985."Eu sou mais voltado para a pastoral", enfatizou dom Fernando. Ser pastoral, trocando em miúdos, seria voltar-se para ouvir, reunir-se com as comunidades. Dar espaço maior aos leigos e às organizações. Nesse sentido, o futuro arcebispo é claro. Ele disse ainda não ter um plano para o desafio de administrar uma arquidiocese com mais de cem paróquias e com mais de 2 milhões de católicos declarados. "Cada pessoa tem a sua cabeça, a sua maneira de trabalhar. Mas não tenho nada programado. Vamos fazer uma assembleia com os padres, com o povo e ver o que é mais urgente, o que Deus está querendo", anunciou. Ao agir assim, o futuro arcebispo estaria atendendo ao desejo de grande parte das pessoas que atuaram no arcebispado de dom Helder e que se afastaram da Igreja com a chegada de dom José. Doutor em teologia, Inácio Strieder, disse não ter dúvidas de que dom Fernando terá um novo jeito de gerir a Igreja local. "A perspectiva é totalmente diferente do que existe hoje. Dom Fernando já sinalizou que ouvirá os diversos setores da Igreja. Isso não será difícil porque ele conhece bem a arquidiocese", analisa. A seu favor, acredita Strieder, o bispo de Sobral teria a característica de ser aberto ao diálogo e a maneira tranquila de lidar com pontos de vista diferentes. "Ele age com tolerância" argumentou, fazendo referência ao comportamento de dom José diante de críticas. O historiador Severino Vicente, autor do livro Entre o Tibre e o Capibaribe, obra que fala da chamada Igreja Progressista, também vê na nomeação de dom Fernando possibilidades de mudança. "Mas não acredito que ele fará o mesmo que dom Helder fez. Está por vir uma Igreja com o jeito próprio de dom Fernando", frisou. Dom Fernando seria um religioso que agrada aos progressistas, órfãos desde a saída de dom Helder, e aos conservadores, órfãos com a aposentadoria de dom José. Um bispo hábil no diálogo, sincero nas conversas, voltado à oração e sintonizado com o momento em que vive a Igreja. Desligado da Igreja por determinação de dom José, padre Reginaldo Veloso disse não está esperando por um novo dom Helder. "Basta que seja um pastor que saiba ouvir seu rebanho, dar uma palavra de conforto e de esperança". Muitos padres e bispos acreditam que dom Fernando atende a esses pré-requisitos. "Ele sempre foi um homem leal a dom José, à Igreja e sabe muito bem ouvir os pobres", disse o presidente da CNBB - Regional Nordeste 2, dom Antônio Muniz. Agora, é esperar. (J.P)"Trechos da carta a dom José Cardoso"Caríssimo Dom José, Recebi com emoção a comunicação de que o Santo Padre Bento XVI me nomeou Arcebispo de Olinda e Recife. O primeiro sentimento a me invadir o coração foi o de temor e de indignidade (...)Através de V. Excia, gostaria de transmitir a todo o povo da arquidiocese que, humildemente, aceitei o chamado da Igreja, em espírito de fé e obediência. O meu lema episcopal "Secundum Verbum Tuum" me motiva a imitar a "Serva do Senhor" que corajosamente respondeu SIM ao chamado de Deus, apesar da sua "pequenez" (...)Conto muito com o seu apoio e colaboração de todos, para juntos darmos prosseguimento à missão e reforçarmos a construção de uma Igreja ministerial, de comunhão e participação, a serviço do Reino de Deus, especialmente, voltada para os interesses dos mais pobres e necessitados(...)Durante vários anos, especialmente nos cinco anos em que fui Bispo Auxiliar (2000/2005), trabalhamos na unidade. Olinda e Recife foi para mim uma verdadeira escola que me preparou para assumir a Diocese de Sobral. Hoje,atendendo ao chamado do Santo Padre, retorno mais experiente e com um único propósito: Servir(...)

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