O Maurício Tavares levantou um questionamento interessante. Quando todos comemoram o dia do AMIGO, ninguém falou daqueles que são talvez os maiores agentes causadores do progresso humano: Os Inimigos. É desnecessário fazer aqui uma daquelas crônicas chatas do Readers Digest sobre a necessidade de se ter inimigos na vida, e do valor que eles adquirem ao longo dessa "penosa caminhada dos degredados filhos de Eva, gemendo e chorando nesse vale de lágrimas". E assim, pois, sem muito emporcalhamento, eu trago aqui uma excelente letra do Noel Rosa que trata no final, exatamente disso: Do João Ninguém, um cara que sequer tinha inimigo, porque nem mesmo tinha opinião. Sem opiniões, sem confrontos. Sem confrontos...sem inimizades. E haverá algo mais detestável do que alguém sempre mais igual que os outros ? É chato repetir o exaustivamente repetido, mas "Viva a Diferença!"
João Ninguém
Composição: Noel Rosa
João Ninguém
Que não é velho nem moço
Come bastante no almoço
Pra se esquecer do jantar...
Num vão de escada
Fez a sua moradia
Sem pensar na gritaria
Que vem do primeiro andar
João Ninguém
Não trabalha e é dos tais
Mas joga sem ter vintém
E fuma Liberty Ovais
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo
Nunca teve opinião
João Ninguém
Não tem ideal na vida
Além de casa e comida
Tem seus amores também
E muita gente que ostenta luxo e vaidade
Não goza a felicidade
Que goza João Ninguém!
João Ninguém não trabalha um só minuto
E vive sem ter vintém
E anda a fumar charuto
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo
Nunca teve opinião
"Garotos bons vão pro céu, garotos maus vão pra qualquer lugar". Até pro covil das feras!
ResponderExcluirEntendi a interpretação do Dihelson e perfeitamente cabe nas estrofes. No sentido geral, dado o lado cronista do Noel, este é mais um tipo miserável que sobrevive pelas ruas do Rio. Não se incomoda com o baralho de cima, mas fuma charutos sem tem um vintém. Não é a mesma coisa exatamente, mas o Billy Blanco fez algo, mas não no tom exaltativo como o Noel com sua crítica no Mocinho Bonito: "Procura esquecer um barraco no Estácio / Lugar de origem que há pouco deixou / Mocinho bonito Que é falso malandro de Copacabana/
ResponderExcluirO mais que consegue é um trilhão por semana / A mana do peito morou na inflação
Zé do Vale, falando em letras, há também algo de parecido com outra letra, a famosa "Conceição", eternizada na voz de Cauby Peixoto, que diz assim sobre o sobe e desce da vida...
ResponderExcluirConceição
Eu me lembro muito bem
Vivia no morro a sonhar
Com coisas que o morro não tem
Foi então Que lá em cima apareceu
Alguém que lhe disse a sorrir
Que, descendo à cidade, ela iria subir
Se subiu Ninguém sabe, ninguém viu
Pois hoje o seu nome mudou
E estranhos caminhos pisou
Só eu sei Que tentando a subida, desceu, e agora daria um milhão
Para ser outra vez Conceição
Abraços,
Dihelson Mendonça