domingo, 9 de agosto de 2009

Aos nossos filhos

Amanhã haveremos de comemorar aquilo que a sociedade de consumo resolveu denominar de Dia dos Pais. Claro que esse data nunca poderá ter o “Glamour” que sempre acompanhou a que celebra nossas queridas mamães, mesmo porque somos meros coadjuvantes, ou figurantes no sagrado ato da criação. Não bastasse nosso papel de “ponta”, no grande teatro da maternidade , nosso script já não é mais o mesmo dos velhos tempos - já se fazem bebês de proveta , já se clonam animais e em breve seres humanos; até mesmo quando contribuímos um pouco ,como aconteceu com nosso colega Luciano Schafir , nos negam totalmente a importância da nossa atuação , como se fôssemos meros depositários de sêmen, sem alma, sem sensibilidade, sem ter mais o que passar para os filhos e netos. Definitivamente, parece terminarão por riscar essa data do mapa, como já fizeram com o nosso script. Nós ,pais, nos sentimos um pouco como uma televisão a válvula , um computador XT , uma vitrola ou um disco de vinil , não temos mais nenhuma aplicabilidade prática e somos mantidos por simples critérios históricos ou de tradição.
Tudo bem ! Não pretendemos mudar a marcha inexorável do tempo! Mas gostaríamos de lembrar algumas poucas utilidades que ainda restam , nesses bichinhos de estimação que existem em algumas residências e que, se não me esqueci, chamavam de PAIS. Os franceses dizem que o pai é um banco proporcionado pela natureza - vejam só ! Temos ainda conosco - cada vez menos é certo, nesses tempos bicudos- temos ainda conosco a possibilidade de fazer empréstimos facilitados a fundo perdido, aproveitem garotos! Sabemos que o nosso papel consultivo é coisa do passado, quem mais acredita em e segue Conselhos paternos? Quando , porém, vocês tomarem o caminho que imaginaram ser o melhor, a despeito do nosso parecer, e começarem a levar os tombos nos buracos , cá estaremos nós, de barbas brancas, prontos para pôr gelo nas machucaduras e prepará-los para enfrentarem os novos desafios. Não queremos mais que vocês se realizem , tentando compensar nossas frustrações, buscando viver os sonhos que nós, pais, não vivenciamos por fraqueza, medo ou pura inércia. Que vocês ganhem os céus , com rota de vôo própria e alcancem dimensões que nós nem sequer imaginamos um dia que existiria. Vocês, meus filhos, são nossa única perspectiva de imortalidade!
Não, já não mais esperamos ser compreendidos , esse quimera impossível. Até mesmo o Cristo, no Calvário, reclamou do pai , perguntando porque Ele O tinha abandonado. A simples existência de vocês é suficiente para justificar a nossa permanência na terra. Se por acaso vocês nos trouxerem algumas lembrancinhas , ficaremos felizes e gratos , mas capricharemos para que nossa alegria não estremeça o tênue castelo de areia em que vocês depositaram todas as ilusões da vida. Vivam esse sonho dourado,por nós ! Cá ficaremos quietos, tranqüilos e esperançosos , como vocês, crianças, quando ouviam o indefectível som do Cavaco-Chinês!

J. Flávio Vieira

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