Não se desanime.
Aliás desanime-se.
O poeta não é dono das palavras.
Delas lacaio.
Escreva torto, ávido, manso.
Com os dedos das mãos
ou com o esmalte das nuvens.
Mas escreva.
Ora se atinge o pássaro em pleno voo,
ora sequer acertamos na mosca morta.
Escreva.
O poema lama, o poema sal, o poema sede.
Não se apiede das sombras.
Depois se quiser rasgue.
Triture.
Coma.
O poema escrito é seu.
Quem lê é senhor de outro.
Portanto,
não se enraiveça.
Ou melhor,
enraiveça-se.
Mas escreva.
Escreva.
O poeta é apenas
dono do silêncio -
que tem outro nome,
que mora noutro espaço.
Gostei muito, Barroso, interessante esta passagem "o poema escrito é seu, quem lê é senhor de outro", disse com pouco o que realmente ocorre na fusão do autor com o leitor, um outro texto, uma obra mista. E isso tem um valor inestimável para quem cria.
ResponderExcluirOu melhor, será que esta opinião coincide com o que você quis dizer ou já é fruto da leitura dessa leitora?
Parabéns, puro estímulo aos desestimulados.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMarta F.,
ResponderExcluirmassa tua capacidade
de envolver-se e retirar
do vácuo o último preenchimento.
Claro que pode haver
entre quem escreve e quem lê
um elo poético (orgânico e etéreo)
mas penso não haver
nem por um nem por outro
onisciência sobre o poema.
Afinal, penso eu, amanhã também serei leitor - um lânguido e cansado leitor.
Um carinhoso abraço.
Poesia que voa como flecha em busca
ResponderExcluirdo alvo sinuoso
Não adianta o esconderijo nem que seja os buracos cavados nas montanhas afegãs
Ela é um patriot teleguiado que não atinge somente o inimigo do momento
Mas, principalmentente, o seu impertinente e sempre satírico algoz
Puro convite ao silêncio aos que falam em demasia.
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