Por André Forastiere
Eu fiquei fã do PT por causa do Sarney. Sério. Foi em 1985. Depois de todo o fuzuê da campanha pelas Diretas - que, estava na cara, não ia dar em nada - conchavo daqui, conchavo dali, fecharam como chapa “da oposição” Tancredo Neves para presidente e José Sarney para vice.
No dia das eleições indiretas, o PT se recusou a participar. O argumento era de que participar do Colégio Eleitoral legitimava as indiretas. É claro que a composição da chapa não ajudava. Tancredo era conservador, mas limpo. Sarney foi presidente da Arena e do PDS. Fez parte do regime militar e se beneficiou muito com isso.
Dois deputados rebeldes, Bete Mendes e Airton Soares, foram expulsos do partido por votar em Tancredo-Sarney. Achei sensacional. Eu tinha 19 anos quando isso aconteceu. Se fosse eu no congresso, não votava no Colégio Eleitoral nem a pau. Hoje tenho 43. Não mudei de posição.
Tancredo morreu, Sarney assumiu - devia ter sido Ulisses Guimarães, que fraquejou; história para outro dia - fez o governo que fez e entregou o Brasil nas mãos de Fernando Collor. E eu fiquei, tá vendo? Tá vendo? É isso que dá fazer acordo com esses caras.
Quando o PSDB fez acordo com o PFL, falei para os amigos tucanos: tá vendo? É a mesma coisa de sempre. Quem chega no poder faz instantaneamente acordo com os filhotes da ditadura.
No intervalo, votei no PT quase exclusivamente, eleição após eleição, até finalmente Lula se eleger. Quando Lula chegou lá, naturalmente escolheu como aliados justamente a escumalha de sempre. É por essas e por outras que não voto mais.
Nosso presidente é um homem pragmático. Deve ter aprendido negociando com os patrões, no tempo do sindicalismo: você não pode sempre escolher com quem vai fazer negócios.
Sou vivido o suficiente para entender isso. Sou ingênuo o bastante para acreditar que você precisa estabelecer alguns limites. Internacionalmente, o Brasil anda apoiando estrupícios como o governo iraniano. Da mesma maneira, Sarney e família estão além do aceitável. Não são nem vilões do século 21, são vilões da Idade Média, senhores feudais, que tratam o Maranhão como gleba e todos os brasileiros como servos.
A imprensa brasileira bateu em Sarney de leve, supostamente porque era o primeiro presidente civil depois de vinte anos de ditadura. Depois, deu mole. Aliás, assim que ele deixou o governo - com inflação de 70% ao mês - ganhou uma coluna na Folha de S. Paulo.
Agora está todo mundo caindo de pau. É uma maneira indireta de bater em Lula, e no PT. Nem tão indireta. Sarney sempre apoiou o governo, qualquer governo, e sempre se deu bem com isso. Apóia hoje Lula, que o defende, e que quer Roseana Sarney forte no Maranhão como palanque para dona Dilma. Se Dilma perde, o clã Sarney apoiará o governo Serra. E tudo continuará como sempre. Maluf não está por aí, soltinho da silva?
Bom, não aceito. As investigações têm que ir fundo, até o fundo do poço de podreiras. Para mim, só pelo que já se apurou, o destino justo para Sarney é morrer na cadeia. É maldade minha? Bernard Madoff deu muito menos prejuízo para os americanos que Sarney para os brasileiros e terá exatamente esse destino.
Agora quero ver sangue…
Fonte: andreforastieri.uol.com.br/
Carlos:
ResponderExcluirExcelente artigo.
Aliás, é bom aproveitar esses momentos, fugazes e finais, de liberdade - sem o patrulhamento ideológico que é exercido na mídia pelos fanáticos petistas - pois me disseram que o nosso querido Salatiel está pensando criar outro blog, pois - segundo a fonte informativa - o Cariricult estaria abrigando muitas postagens políticas e, na concepção original de criação deste blog, era apenas para ser um veículo cultural.
A fonte é fidedigana.
E, convenhamos, é um direito do Salatiel.
Da minha parte já vou encerrando minhas colaborações, embora ache que só "cultura" enfastia qualquer cristão.
De qualquer forma, Valeu!
Armando,
ResponderExcluirAcredito que esta informação é totalmente infundada. Não existe, no Cariricult, pelo menos que eu saiba, nenhuma disposição para impor cerceamento de liberdade de expressão. Salatiel e eu nunca interferimos em nada. Nunca foi suprimido nenhuma colaboração ou comentário que seja. Além do mais, o Cariricult foi criado como um espaço para veiculação de idéias, independente de sua natureza, seja artística, política ou filosófica. Pode ficar tranquilo e continuar postando suas matérias. Conhecemos sua conduta íntegra e democrática, assim como a todos os que colaboram neste blogue. O melhor que pode existir num meio de comunicação é que ele seja plural, democrático e transparente. Como esse blogue é coletivo, transformá-lo num espaço com estas características, competem a todos, individual e coletivamente.
Por fim, que eu saiba, Salatiel não está criando nenhum outro blogue.
Fico com Carlos Rafael. Nas poucas conversas que tenho com Salatiel ele não se importa lá muito com as postagens políticas. A proposta do blog é clara: é livre e cada um é responsável pelo que escreve. Eu também acho improvável isso.
ResponderExcluirTaí o retrato da politiquisse brasileira. Vão dizer daqui a pouco que é culpa do Lula. Essa esculhambação e o retrato das chefões do poder. Mas "no Ceará num tem disso não", não!!!Ui!!!
ResponderExcluirChau...
Armando,
ResponderExcluirO Cariricult foi criado para abrigar a pluralidade e continuará assim.Já falei pro Carlos - que também é administrador - que em momento algum faremos qualquer interferência, porque somos todos responsáveis pelas nossas idéias manifestadas nas postagens. É claro que não admitiremos pornografia, destratamentos pessoais e coisas afins.
A outra estória sobre outro blog é que, a pedido da Socorro Moreira e Claude Bloc, Carlos criou e eu dei o nome de "cariricaturas" ao blog que duas administram. A confusão parece estar nessa ação nossa.
Continue conosco! É aqui que a gente se encontra.
Não só Sarney merece um "destino justo". Tem muitos "Sarneys" pelo Brasil afora. Ele tem seus representantes na região. Eles controlam as rádios, os jornais, as empresas, o "agronegócio", as prefeituras. Estão todos aqui.
ResponderExcluirReinando.
Mas aqui, são reconhecidos como "cidadãos de bem". Ou será de "bens"?
Patrimonialismo, clientelismo, machismo, reacionarismo, são algumas das marcas dos "Sarneys" desse nosso Ceará profundo.
A diferença é que o Sarney de lá não mora perto de nós. Se morasse...