segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O que venho fazer no Rio?

A resposta mais natural seria: - O Rio é o Rio, meu camarada! Mas não é tão simples assim. O Rio de Janeiro é uma cidade com seus encantamentos naturais, mas ainda com problemas sociais graves que se evidenciam quando nos deparamos com o lixo amontoado na zona central – Cinelândia, Carioca, Candelária – e uma enorme população de miseráveis, negros em maioria, que utiliza as calçadas como moradia e o álcool como bálsamo para suas vidas em abandono. E ainda, tanto aqui como em São Paulo (com o Tietê), ou no Crato (com o Grangeiro), o Rio de Janeiro também transforma o rio Maracanã em esgoto a céu aberto. Eu não gosto disso.
É evidente que a pergunta carrega um pouco de curiosidade e até uma ponta de censura, uma vez que no Crato- mesmo com as limitações comuns de uma cidade do interior do Ceará do nordeste brasileiro – a gente consegue interagir e realizar bons trabalhos no campo da cultura, área que me afeiçoa. Alem do mais, existem a família e os amigos que criam uma espécie azougue emotivo que nos aprisiona e nos liberta ao mesmo tempo.
Mas, por outro lado, o Rio me oferece sempre, e por todo o tempo que aqui me encontre, a possibilidade de respirar e experimentar uma efervescência cultural formidável que me anima e me provoca uma atitude transgressora – a arte é sempre anarquista !- e que não é eventual como quando acontece aí no Cariri na Mostra de Artes realizada em novembro pelo SESC e, venhamos e convenhamos, não dá pra esperar onze meses pra se ver um bom espetáculo de teatro ou música. Não esqueço do esforço do CCBNB-Cariri em manter uma programação decente durante todo o ano.

Por exemplo, estou aqui faz seis dias. Neste curtíssimo espaço de tempo já vi:

“O telefone”, opereta bufa de Gian Carlo Menotti, que já ridiculariza o apego excessivo de uma mulher pelo telefone a ponto de não dar atenção ao namorado que está em sua casa. Eu sempre gostei muito de ópera e da voz como instrumento sonoro primordial do homem. Mais ainda quando estudei canto aqui no Rio e frequentava os festivais que aconteciam no Teatro Municipal acompanhado de minha professora, Maria Amélia, do Conservatório Brasileiro de Música. Lembrei-me daquele tempo. Aconteceu no foyer da Escola de Música da UfRJ;


Taí eu com a Regina Braga e o Rodolfo Vaz, elenco da peça "Por um Fio".
“Por um Fio”, é o espetáculo de teatro baseado na obra homônima do midiático Dr. Drauzio Varella, com uma direção perfeita de Moacir Chaves e a interpretação equilibrada de Regina Braga (atual esposa do médico) e Rodolfo Vaz, que versa sobre a vivência do Dr. Drauzio, médico oncologista, quando cuidava de pacientes terminais e como cada um deles enfrentava e superava esta nova situação limite entre o ser e a possibilidade de não ser mais. O espetáculo ainda está em cartaz no Teatro Ginástico, centro do Rio;


“Simplesmente eu, Clarice Lispector“, textos de Clarice interpretados magistralmente por Beth Goulart. A Atriz reencarna – é a palavra mais apropriada - com tanta perfeição a escritora que dá pra duvidar se não é a própria que está no palco. A diferença mínima que existe é o timbre de voz, porque a Clarice tinha uma tonalidade puxada mais para o contralto levada, quem sabe, pelo vício de fumante incorrigível. O espetáculo permanece até 04/10 no CCBB;
Dentre as exposições que estão montadas nas galerias, destaco as que seguem:

“A Virada Russa”, é um acervo representativo do movimento de vanguarda na antiga USSR que se gesta antes da Revolução de 1917 e sobrevive a ela. Nomes como o mestre Chagall, o reconhecido Kandinsky, o ousado Maliévitch, e o excelente Pável Filonov, dentre outros, estão com obras nesta exposição que é, no mínimo, reveladora, uma vez que a nação comunista de Stalin, Lenin e Trotsky, parecia não permitir uma liberdade de expressão que não fosse para propagar o regime. Esta exposição acontece no Centro Cultural Banco do Brasil;



“Luiz Carlos Barreto, Quadro a Quadro”, é um painel sobre a vida e obra deste cearense de Sobral que começou como repórter fotográfico da revista “O Cruzeiro” e, hoje, é considerado um dos grandes produtores (principalmente para os filhos Bruno e Fábio) do cinema Nacional. A exposição é recheada de muitas fotos, cartazes de cinema e vídeos- depoimento. È Bem bacana! Ela está no Centro Cultural da Justiça Eleitoral;



Gary Hill, o Lugar sem o Tempo”, é uma instigante experiência sensorial. Nunca tinha ouvido falar dessa figura, mas fiquei deveras impressionado. O artista utiliza essencialmente imagens digitalizadas como paleta para suas obras. Na edição, sonorização e projeção múltipla das imagens (até 5 entrelaçadas!) ele desconstrói o tempo a que nos acostumamos e fica tudo muito louco! Com algumas obras o público pode interagir e nem precisa de um baseado para viajar! Eu recomendo . Ela acontece no Espaço Oi!, lá no Flamengo.

Alêm do mais, o clima agradável das tardes outonais amplifica o meu prazer de tomar um café expresso nas galerias do Cine Odeon, na Cinelândia.

É por estas e outras ...

7 comentários:

  1. Que maravilha, Salatiel!
    Passe na volta por aqui.
    Abraços!

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  2. Te saúdo, amigo caririense, que curte o Rio de Janeiro.
    Do amigo carioca, que vive no Cariri!
    Talvez sejamos "caririocas".

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  3. Como foi dito, o Rio é o Rio.

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  4. Luis,

    Como sabes eu moro no outro lado da montanha em que estás. A tua irmã deve ter o meu telefone. Vou enviar um e-mail.

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  5. Às vezes me assusta pensar no alcance desse blog, tantas pessoas bem relacionas, artistas consagrados, não é fácil, eu que sou pequenininha do tamanho de um botão, carrego papai no bolso e mamãe no coraçaõ...

    Salatiel, és nesno um privilegiado, aproveite o máximo. Bjos.

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  6. affff...foi e nem falou para as amigas. Vou em setembro pro Recife, bora ?

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