quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Denúncia publicada no jornal O POVO


Paleontologia
Geopark Araripe ameaçado de perder selo da Unesco
Integrante da Rede Global de Geoparks, projeto da Unesco,
o Geopark Araripe passa por uma auditoria no ano que vem.
Se não mostrar os resultados esperados, pode perder o
reconhecimento internacional, único no País

Larissa Lima
enviada ao Cariri
larissalima@opovo.com.br

[30 Setembro 02h10min 2009]
A porção da Bacia do Araripe no Cariri cearense é reconhecida internacionalmente como uma herança geológica da Terra. Se pudesse falar, seria uma baita contadora das histórias do Planeta. Porém, sem voz própria, precisa ser interpretada e vivenciada pela ação humana. E é justamente essa última que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) faz uma nova avaliação, quatro anos após a visita que resultou na criação do Geopark Araripe. A auditoria põe em jogo a manutenção da unidade cearense como integrante da Rede Global de Geoparks.

Pelo menos aos cientistas, o lugar já conseguiu narrar muitos contos. Descreveu enormes seres voadores, lembrou como as plantas tiveram a ideia de pôr flores e até disse que, um dia, há muitos e muitos anos, a América e África eram vizinhas.

As paisagens que, do verde, passam a criar tons de marrom nesta época do ano, foram apresentadas pela Universidade Regional do Cariri (Urca) à Unesco num projeto que pretendia aproveitar os conhecimentos científicos sobre a relevância geológica e paleontológica da região numa estratégia de desenvolvimento local.

O credenciamento na rede internacional como o primeiro Geopark das Américas e, até o momento, único do Brasil, veio em 2006. No ano seguinte, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), concedeu ao projeto um prêmio na categoria Proteção do Patrimônio Natural e Arqueológico. Mas a chancela internacional, importante para atrair investimentos públicos e privados, não é definitiva e pode ser perdida caso a equipe de técnicos da Unesco avalie negativamente o desenvolvimento dos trabalhos na região.

``A cada período, o programa é auditado por especialistas para verificar o cumprimento das questões propostas na época do seu credenciamento``, explica André Herzog, reitor da Urca na época da fundação do parque e um dos idealizadores do projeto. Apesar de não manter mais contato com o Geopark Araripe, ele foi conselheiro científico da Unesco na última Conferência Global de Geoparks, na Malásia. ``A coisa mais importante do Geopark são atividades. São as visitas guiadas, as iniciativas educacionais, científicas, a troca de informações com outros Geoparks``, aponta. Segundo o gerente do Geopark, Idalécio Feitosa, as visitas guiadas e os projetos educacionais, nas escolas, continuam acontecendo normalmente. O POVO apurou, no entanto, que as atividades que antes dependiam do Museu de Paleontologia da Urca, fechado há um ano para reforma e ampliação, estão desarticuladas. E o desenvolvimento regional, ainda não passa de expectativa.

Apesar de permanecer oficialmente sob a tutela da Urca, o Geopark agora é encarado como um projeto de Governo e deve receber mais de R$ 12 milhões em investimentos em projetos executados nos próximos cinco anos, segundo Emanuela Rangel Monteiro, da Secretaria das Cidades.

As ações planejadas contemplam áreas de educação ambiental, preservação e desenvolvimento econômico sustentável, ao gosto da Unesco. No entanto, ela admite que o resultado da auditoria ``é sempre uma incógnita``.


SAIBA MAIS

> Um Geopark é uma área nacionalmente protegida contendo um número de locais de determinada importância, raridade ou aparência estética. Esses locais deverão ser parte, segundo as recomendações da Unesco, de uma estratégia de desenvolvimento econômico sustentável das regiões onde está localizado. Um Geopark atinge o seu objetivo por meio de uma abordagem em três eixos: preservação, educação e geoturismo.

> Atualmente, existem 58 geoparks nacionais em 18 países fazendo parte da Rede Global de Geoparks da Unesco.

> O Geopark Araripe é estruturado em nove sítios escolhidos de acordo com a relevância geológica e paleontológica. Eles são chamados de ``geotopes`` ou ``geosítios`` e são representantes das camadas da Terra que chegam a ter 150 milhões de anos. São eles: Exu, Arajara, Santana, Ipubi, Nova Olinda, Batateiras, Missão Velha, Devoniano e Granito. Exu, Arajara, Santana e Devoniano também são unidades de conservação ambiental estadual.

> O Geopark Araripe tem área de mais de 5 mil quilômetros quadrados e abrange pelo menos seis municípios da região do Cariri: Nova Olinda, Santana do Cariri, Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha e Barbalha.

LEIA AMANHÃ
> O Museu de Paleontologia em Santana do Cariri está fechado há mais de um ano para reforma e ampliação. No local, O POVO encontrou mobiliário, equipamentos de informática e até fósseis dividindo espaço e poeira com o material de construção.


Alemão ressalta diversidade

30 Set 2009 - 02h10min
O pesquisador alemão Gero Hillmer, do Instituto de Geologia e Paleontologia da Universidade de Hamburgo, conheceu os fósseis de Santana do Cariri ainda quando era estudante, nas ilustrações dos livros. ``Há 40 anos, eu soube dos fósseis de Santana e muitos, muitos pesquisadores na Europa sabem também. Você encontra os fósseis de Santana em qualquer Museu de História Natural`` ressaltou.

Conhecer de perto mesmo os tais fósseis, ele só foi em 2000, com uma equipe de pesquisadores. Alguns anos depois, foi um dos idealizadores do Geopark Araripe.
Na bacia sedimentar no Cariri, encontrou provas importantes da teoria da deriva continental,do alemão Alfred Lothar Wegener, em 1912, de que todos os continentes formavam um só bloco. A teoria foi firmada depois de amostras de que seres semelhantes viviam nos dois continentes.

``Vocês têm aqui pequenos peixes, que ainda pode encontrar nas rochas sedimentadas do Crato, com 120 milhões de anos de idade. Esse peixe, você também encontra na mesma formação (geológica), na costa-oeste da África``, explica Hillmer.

Ele também afirma que o estado de preservação e a diversidade dos fósseis, são excepcionais. Além de peixes e plantas, a área é reconhecida pelo registro fóssil de animais invertebrados, anfíbios, lagartos, crocodilos, dinossauros e pteurossauros. Em Santana, foi encontrada a maior parte dos fósseis de pteurossauros já descritos.`` (LL)

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