terça-feira, 8 de setembro de 2009

Maranhão visto de perto. Um estudo de caso sobre Araioses.

Mestre, meu mestre querido.
(...)
Mestre, só seria como tu se tivesse sido tu.

Que triste seria como tu se tivesse sido tu.
Que triste a grande hora alegre em que primeiro te ouvi!
Depois tudo é cansaço neste mundo subjectivado,
Tudo é esforço neste mundo onde se querem coisas,
Tudo é mentira neste mundo onde se pensam coisas,
Tudo é outra coisa neste mundo onde tudo se sente.
Depois, tenho sido como um mendigo deixado ao relento
Pela indiferença de toda a vila.
Depois, tenho sido como as ervas arrancadas,
Deixadas aos molhos em alinhamentos sem sentido.
Depois, tenho sido eu, sim eu, por minha desgraça,
E eu por minha desgraça, não sou eu nem outro nem ninguém.
Depois, mas porque é que ensinaste a clareza da vista,
Se não me podias ensinar a ter alma com que a ver clara?
Porque é que me chamaste para o alto dos montes
Se eu, criança das cidades do vale, não sabia respirar?
Porque é que me deste a tua alma se eu não sabia que fazer dela
Como quem está carregado de ouro num deserto,
Ou canta com voz divina entre ruínas?

(...)

Fernando Pessoa/ Álvaro de Campos

In Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
Antologia Poética (Ulisseia Ed.)

A tentativa de ser claro o bastante pela demonstração científica é válida em todos os cantos da terra, mas no Crato ela não tem lá muita serventia, pelo menos para algumas pessoas. Agora tento a sorte pelo apelo poético demonstrado acima do texto e abaixo dele. Depois da demonstração cabal das atrocidades do regime socialista seja em seu plano real ou em sua surreal meta-meta-meta-teoria por diversos autores onde, por diversas vezes em debates eu apenas recortava algumas matérias que correspondiam ao interesse do mesmo e as colava aqui (com os devidos créditos), elas por sua vez passaram a ser ignoradas como se o cliente do restaurante fizesse o pedido e depois de recebido e confuso, recusasse o prato que provou. A partir daí o (in) hábil cliente muda de pedidos a todo momento, tentando confundir o garçom onde ele oportunamente ergue sua voz ditatorial acusando. O debate feito com pessoas deste tipo torna-se impossível, pois a unidade da problemática levantada nunca é levada até o fim. A mesma quando vem sendo desenvolvida em linha reta em busca de um esclarecimento final passa a tomar uma forma curva, desviando-se de seu objetivo principal onde, por vezes, não bastasse isso (que já é um absurdo) a curva sinuosa passa a uma linha paralela onde não há literalmente nenhuma relação com a problemática de início. Assim, não só aqui no CaririCult mas em quase todo ambiente dito intelectual no Brasil as problemáticas quando discutidas não se resolvem, pois, geralmente não se busca esclarecer a questão, mas reafirma-se a todo custo sua crença, por mais absurda que ela seja, sustentado-se na sombra da argumentação medíocre de direito e pluralidade de crenças. As idéias são plurais, as teorias, as reflexões, opiniões etc., mas contra o FATO HISTÓRICO não pode-se negar, e quando constata-se que o mesmo existiu, ou, como diria o Nelson Rodrigues: O óbvio ululante! não é honesto mudar o foco do que se tinha em discussão. Que torne-se agora claro, já que de outras vezes não foi possível, que eu não pertenço a nenhum partido, seja ele qual for, que não sou de acordo com nenhuma injustiça, seja ela qual for. Como alguns poucos participantes do blog sabem, estou residindo agora em Teresina e lá, trabalhando diretamente com prefeituras estou tendo a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a dura realidade de injustiças sociais do país cujas quais não as ignoro como queira insistir. Além de percebê-las, fiz, que por sinal não é mais do que minha obrigação, um registro fotográfico de onde tenho passado nesses últimos meses onde, só posteriormente pretendia publicá-lo, porém, dada a urgente situação de fazer-se entendido, aqui estão algumas imagens sobre Ararioses, cidade situada no interior do Maranhão que há pouco tempo tinha o pior IDH do Brasil. A cidade vive praticamente de duas fontes de renda. Metade vive empregada na prefeitura e/ou são aposentados e/ou pensionistas e a outra metade vive da agricultura e do pequeno comércio local. Curiosamente o conhecido Delta do Parnaíba, hoje mais conhecido como Delta das Américas tem início em Araioses que, estranhamente não tem nenhum plano de desenvolvimento turístico, tendo uma história fabulosa ainda a ser registrada. O Delta é quem consegue sustentar inúmeras famílias pela pesca e venda de siris e caranguejos. Os catadores e pescadores, sem nenhuma organização ou cooperativas vendem a unidade de caranguejo a R$ 0,25 para um senhor chamdo Chico do Caranguejo, que reside em Fortaleza tendo lá um restaurante que, por sua vez, vende seu excedente aos demais restaurantes da beira-mar e outros bairros da capital cearense. O trabalho é pesado, cansativo e sem nenhum planejamento de sustentabilidade para o meio ambiente. Desde que cheguei ao Crato para passar o feriado, não parei de trabalhar tentando entrar em contato com artistas e pessoas que possam ajudar-me no que tenho planejado tentar ajudar como possível a cidade em questão. É, o cão de guarda do capitalismo parece que também tem coração. Ontem tive a oportunidade de discutir a idéia de um planejamento de desenvolvimento cultural na cidade com Abidoral e a proprietária da casa, Olhar, a Gabi, que por sinal mostrou-se bastante sensibilizada com a questão. Hoje fui gentilmente recebido na casa da Socorro para um almoço que nem preciso comentar. Ótimo sentir-se em casa e poder trocar idéias com pessoas que mostram-se abertas eternamente e motivantes antes de tudo, onde, mais uma vez expus minha surpresa com a situação que tinha me deparado. Por fim, deixo-os com as imagens de uma cidade extremamente carente de tudo que se possa imaginar. Rudimentos de civilização a serem edificados, e não ignorados como insistentemente possam acusar-me ignorando meu trabalho e a seriedade e congruência entre o que penso e faço.

Porto de Araioses.

Comunidade onde vivem os catadores de caranguejo.

Filho de um dos catadores. O jovem Roberto de 8 anos estuda e trabalha com o pai na pesca e coleta de caranguejos.

Almoço do dia

Barraca armada nas dunas do Delta. Potencial turístico e pobreza convivem lado a lado

Como disse ao longio da postagem a cidade é onde se inicia o Delta das Américas, mais conhecido como Delta do Parnaíba. Todo o potencial turístico da cidade é renegado e perdendo a oportunidade de tirar a população das presentes dificuldades que até hoje permanecem. Algo espantoso, mas que pelo menos agora está sendo preconcebida uma mudança. O que nos sobre aqui, ou até mesmo o que nos parece ridículo em termos de cultura, educação ou qualquer forma onde se exerça a cidadania falta lá.

2 comentários:

  1. Sávio leve em consideração que por vezes quem mais debate com você, contra-argumente e até mesmo se irrite com a tua argumentação é quem pode mais lhe considerar. Quando não se considera e nem se abre, ainda que seja a mesma argumentação, nem se dá ao trabalho de rebater.

    O tenho acompanhado em diversas postagens e comentado muitas delas. E não o faço por mero exercício é que você tem algo para dizer. E por isso não fique agastado quando ainda assim não conseguiste modificar a postura do outro. Por vezes a postura dele servirá de base para a análise da tua própria. É assim que evoluimos no campo das idéias.

    Quem o lê não o considera capitalista, pois efetivamente não o é. Tem leituras e argumentos ideológicos afinados, mas na centralidade é uma pessoa de grande sensibilidade para o mundo. E isso é muito. E sendo muito, o considere.

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  2. Olá José. Por conta dos problemas do blog só agora vo o seu comentário. Agradeço a sua atenção para os meus escritos e para as tantas postagens que faço aqui vindas de outros sites, mas que são relevantes e assim sendo, necessárias por aqui também. A matéria em questão é um trabalho que estou desenvolvendo na presente cidade sobre a geografia e a história do local.

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