“Fui assaltada por dois bandidos de bicicleta na praia do Flamengo. É lamentável ele agirem como fossem donos da rua em plena luz do dia.” Ninguém lê uma frase como essa sem emoção. Raramente analisará seu conteúdo. Buscará além do fato narrado. Exemplo, como funciona a cabeça de quem disse a frase.
Num destes programas jornalístico da TV aberta vi uma matéria sobre a nova moda do automobilismo. Falo do GPS: você ainda terá um para o mesmo trajeto de ida e retorno de casa para o trabalho. Aliás, o GPS apenas servia para reforçar outra idéia: a realidade da pirataria e seus riscos. E aí surge o mesmo personagem da frase anterior que até pode ser você.
Era uma senhora, na verdade bem moça, como estas heroínas independentes, que têm “pensamento próprio”, ganham seu dinheiro e têm seu carrinho. Depois de atingir o pico da vida, compram um GPS e assumem aquela fala de uma canção do Billy Blanco: “Não fala com pobre, não dá mão a preto, não carrega embrulho./ Pra que tanta pose doutor?/ Pra que esse orgulho?
Pois falava a senhora sobre os perigosos do “GPS pirata”: poderia me levar para o interior de uma favela. E quem iria pagar o risco dela no meio daquela subumanidade? Qual vampiro que suga a vida das pessoas em suas telas de Cristal Líquido. Jamais perdoaria a possibilidade que os “piratas”, através de um “GPS”, tramassem as vias tortas pelas quais iria chegar bem no meio das ruas de uma favela qualquer. Especialmente destas que derrubam helicópteros.
Os dois casos são a pirataria do pensamento televisivo na mente desta classe média bem posta pelo grande poeta Patativa do Assaré: está no purgatório, entre o céu e o inferno. Quando era para todos crescerem, aprenderem a pensar com liberdade, pois têm a convivência diária com a realidade social, política, cultural e material do mundo. Abdicam de tudo e se tornam ventríloquos de uma mídia efetivamente a serviço da ideologia de classe. A classe dominante, consciente de que é preciso criar ódio contra pobres para que as classes médias jamais os tenham em humanidade e a eles se juntem noutra ordem social, política e material possível.
O assunto é vasto como dizia o poeta: mundo, mundo, vasto mundo, se eu não me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução. É vasto, mas há tempo de retornar aos termos da primeira frase.
Se ao invés de colocar “bandidos” a dona da frase tivesse dito, “pessoas”, não haveria como enunciar a frase seguinte (nos dois casos são mulheres). Pois é aí mesmo que existe o efeito ideológico: as ruas estão cheias de bandidos à luz do dia. E como estão cheias de bandidos, ou melhor, foram tomadas por eles, existem duas ações complementares: refugiem-se nos shoppings com segurança privada e aparelhem a segurança pública para uma guerra de retomada das ruas. Uma guerra contra quem? Contra pretos, pobres, favelados, prostitutas, gays, comunistas, drogados e todo dia um novo item será acrescido na lista da mídia.
Pensar por si pode ser difícil. Pode até inaugurar outro mundo em que este cubículo chaveado não mais seja necessário. Inclusive pode fazer nascer em a idéia que a vida é algo maior do que este peso consumista que se tornará nada no segundo da morte. Pode até levar para o vasto mundo do pensamento humano e suas tramas milenares para trás e para frente. Conquistar a era, aquela que faz de hoje a revisão do passado e a estimativa do futuro.
Num destes programas jornalístico da TV aberta vi uma matéria sobre a nova moda do automobilismo. Falo do GPS: você ainda terá um para o mesmo trajeto de ida e retorno de casa para o trabalho. Aliás, o GPS apenas servia para reforçar outra idéia: a realidade da pirataria e seus riscos. E aí surge o mesmo personagem da frase anterior que até pode ser você.
Era uma senhora, na verdade bem moça, como estas heroínas independentes, que têm “pensamento próprio”, ganham seu dinheiro e têm seu carrinho. Depois de atingir o pico da vida, compram um GPS e assumem aquela fala de uma canção do Billy Blanco: “Não fala com pobre, não dá mão a preto, não carrega embrulho./ Pra que tanta pose doutor?/ Pra que esse orgulho?
Pois falava a senhora sobre os perigosos do “GPS pirata”: poderia me levar para o interior de uma favela. E quem iria pagar o risco dela no meio daquela subumanidade? Qual vampiro que suga a vida das pessoas em suas telas de Cristal Líquido. Jamais perdoaria a possibilidade que os “piratas”, através de um “GPS”, tramassem as vias tortas pelas quais iria chegar bem no meio das ruas de uma favela qualquer. Especialmente destas que derrubam helicópteros.
Os dois casos são a pirataria do pensamento televisivo na mente desta classe média bem posta pelo grande poeta Patativa do Assaré: está no purgatório, entre o céu e o inferno. Quando era para todos crescerem, aprenderem a pensar com liberdade, pois têm a convivência diária com a realidade social, política, cultural e material do mundo. Abdicam de tudo e se tornam ventríloquos de uma mídia efetivamente a serviço da ideologia de classe. A classe dominante, consciente de que é preciso criar ódio contra pobres para que as classes médias jamais os tenham em humanidade e a eles se juntem noutra ordem social, política e material possível.
O assunto é vasto como dizia o poeta: mundo, mundo, vasto mundo, se eu não me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução. É vasto, mas há tempo de retornar aos termos da primeira frase.
Se ao invés de colocar “bandidos” a dona da frase tivesse dito, “pessoas”, não haveria como enunciar a frase seguinte (nos dois casos são mulheres). Pois é aí mesmo que existe o efeito ideológico: as ruas estão cheias de bandidos à luz do dia. E como estão cheias de bandidos, ou melhor, foram tomadas por eles, existem duas ações complementares: refugiem-se nos shoppings com segurança privada e aparelhem a segurança pública para uma guerra de retomada das ruas. Uma guerra contra quem? Contra pretos, pobres, favelados, prostitutas, gays, comunistas, drogados e todo dia um novo item será acrescido na lista da mídia.
Pensar por si pode ser difícil. Pode até inaugurar outro mundo em que este cubículo chaveado não mais seja necessário. Inclusive pode fazer nascer em a idéia que a vida é algo maior do que este peso consumista que se tornará nada no segundo da morte. Pode até levar para o vasto mundo do pensamento humano e suas tramas milenares para trás e para frente. Conquistar a era, aquela que faz de hoje a revisão do passado e a estimativa do futuro.
Sobre essa postura e esse ódio de classe, também escreveu o jornalista Luiz Carlos Azenha em seu site.
ResponderExcluirMuito bom os dois textos, oseu com mais profundidade sobre a questão.
Parabenizo-o pela escrita.
Eu conheço uma pesoa que diz que a classe média quer ganhar o seu na cidade, mas não quer os problemas da cidade. Não lhe dizem respeito. Não foi de bobeira que ela inventou o condomínio fechado, ou que este lhe caiu que nem uma luva.
ResponderExcluirBom texto o seu.