Cadafalso

Tem dias que a gente amanhece com gosto de merda na boca, uma vontade de se matar. Vegetar numa boa: uma sonda no cu, outra no estômago. Nunca fui um revolucionário mesmo. Prefiro minha mesquinhez, minha vidinha mais ou menos. Um egoísmo, incompreendido? EU NÃO QUERO SALVAR O MUNDO.

(ao inferno com a salvação...)

Tenho minhas dores pessoais. Coisas minhas. Meu parquinho de diversões. Uma sonda fazendo cócegas em meu cu. Uma casa no mato, eu quero cagar numa moita. Ecologia e pássaros cantando. Tranqüilidade e silêncio também fazem parte de uma boa vida, uma casa no interior que não tive.

Uma vida de refugos. Falta-me talento para inventar outra. Nunca fui Uno, repito. Ou monossilábico. Eu odeio o número um. Sinto falta de você.

É só isso. Traçar um caminho (sempre ele) onde eu possa passar alguns dias sonhando com algo grande, que nunca vem. Minha tatuagem, o sangue fervendo, meus poucos dias. Peco por falta de clemência. Às vezes acredito no meu gozo, num deus barbudo (com ele tudo seria mais fácil, dizem), numa alma dilacerada que escreve o Grande Livro. Minha dor, só minha dor. Eu não tenho mais você. Fiz assim uma canção (“nem tão boa assim, vamos ser sinceros”). Uma canção minha, uma bela merda.

Não tenho nenhuma foto tua. Tudo que carrego são lembranças (o gosto do teu beijo ficou dias em minha boca), o cheiro do teu quarto. À puta que pariu minha tristeza. Acho que já é tarde (noite fria, as estrelas já estão conspirando), eu não tenho mais seu riso matinal. Eu que pague o preço.

“Foda-se”, você diria num dia mais inspirado (hoje não tem lua. Para quê?).

Então, tá, quando tiver amor próprio e uma tatuagem, atiro-me na frente de uma caminhão. Provo o que senti por você (ainda sinto?). Falta-me intuição, eu tenho uma séria confusão armada na minha cabeça. Coisa minha, já entendi.

Não tive chances para dúvidas. Eu te amei, de uma forma confusa. Coesão, medo, flores de plástico? Você nunca acreditou em mim mesmo.