domingo, 10 de janeiro de 2010

JUNTANDO OS CACOS (*)


Por Carlos Rafael Dias


Humanos não são objetos sólidos, pois se desmancham com o tempo. De que valem, então, toda couraça, armadura e até escudo, se desde o medievo existe a besta para derrubar cavaleiros e guerreiros? Somos muito vulneráveis. Só os santos nos protegem. E, assim mesmo, se fizermos por merecer. Tenho um santo forte, acho. Mas, preciso, de vez em quando, juntar os cacos que vão caindo ao longo da estrada. Ontem mesmo senti falta de uma perna inteira. Ainda bem que a achei encostada, meio escondida, em um banco de praça. Por isso, ninguém a levou.
Juntar os cacos exige muito mais do que perseverança, um pouco de memória e um olfato aguçado. É, principalmente, um exercício de humildade. Os endinheirados e cheios de empáfia não se humilham praticando este tipo de atividade. Preferem substituir seus cacos por próteses avançadíssimas, últimas novidades vendidas nos shoppings. Assim, estão deixando de ser humanos e virando andróides. A transformação final acontece quando perdem o coração e o substituem por uma válvula automática, feita de uma liga super-resistente, a base de titânio e alumínio.


(*) Estava sentindo falta do Rafa por aqui. Como se fosse o último caco que faltava do meu vaso chinês da dinastia Ming quebrado e que estava a colar. Ai fui lá no blog dele e me deparei com este singelo texto e...mais: que seu aniversário foi na sexta-feira passada, dia 08 de janeiro e -imperdoável falha! - não manifestei naquela data o meu apreço, a minha estima fraternal por aquele que tem sido, como poucos, um amigo verdadeiro. Saúde, Rafa!

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