quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

o meu relicário

É uma pena
que tenha aberto
as portas da matéria
e não se preocupado
com o que acontece
subitamente
além do vazio e do nada.

É uma pena que tenha vivido
a bajular os orixás lhes dedicando
rituais sinistros, tais como:
"uma colher, um torrão de açúcar e água."

Depois só ver a alma
mordendo a própria língua.

É uma pena que sempre se valha
de uma palavra debaixo da língua.
Assim nunca será um santo epiléptico.

É uma pena que tenha se assustado com o aneurisma
tão somente nas horas de impasses e espasmos.

E não praticado
quando convinha
meditação e piedade.

É uma pena que a morte
nunca lhe chega aos pés.
Nunca lhe assombra as noites.
Nunca lhe cinge de vez os cílios
com a remela dos enfermos.

É uma pena o seu suspiro
assemelhar-se tanto a seu soluço.

Enlouqueço não saber
se é cansaço
ou tristeza.

É uma pena
que não tenha tido
uma companheira
que entendesse:

seus ossos
ainda que exumados
cheiram bem.

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