terça-feira, 26 de janeiro de 2010

lugar que não existe

Precisava de solo
e tu me deste asas.

Quando abri a porta
tu me lançaste aos olhos
pó de borboleta.

Não fiquei cego.

Ao contrário,
hoje minha vista
dobra horizontes
cruza céus.

Eu só queria paz.
E tu me forjaste um ventre
sempre bule com chá quente.

Não me faltam ancestrais
sentados à mesa

trocando estranho silêncio
nos olhares de outro mundo.

Tu és meu algoz
com pinta de bom mocinho.

Aqueles olhos penetrantes.
Aquele sinal no lábio esquerdo.

Por vez acordo ciente do meu fim,
então tu gargalhas e jogas as chaves
do quarto secreto.

"Só tens três minutos."

Eu enlouqueço:
O que posso salvar de um incêndio
em três minutos?

O primeiro desenho do meu filho?
Meus sete últimos poemas?

Tu sabes como renovar a coragem de um homem.
Como tornar sóbrio o olhar de um Lunático.

Meto-me quarto secreto adentro.
Queimo os braços, antebraços, rosto, cabelo.

Tudo que consigo é mais suor na língua.
É mais frio na nuca.

Não durmo bem,
não me alimento.

Só admirando a repentina euforia.
Tristeza em algum lugar.

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