segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Chuva

O poema é igual a um filho pequeno
precisa sempre ser olhado
de madrugada.

E ao me debruçar vigilante
sobre os engasgos e refluxos
do tenro ser

também releio cada poema
escrito no dia anterior
atento se ainda respira.

Como há filhos pequenos
que causam medo
por tanto silêncio
enquanto dormem

há poemas que turvam as palavras
ou destrincham a ideia
com maestria
e crueldade.

Sou um pai atencioso:
embalo o recém-nascido,
com a outra mão reescrevo versos.

Sei que qualquer noite
foge da minha alma o poema
logo cresce a criança

então talvez seja a hora
de também partir.
Ou dormir agora.

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