Na nossa criancice era comum a gente ser indagado pelos pais sobre os nossos projetos para o futuro, fazendo-nos, assim, quebrar o encanto e a fantasia da nossa infantilidade:
– O que você quer ser quando crescer?
As nossas respostas quase sempre agradavam aos desejos dos adultos que nos cercavam ávidos por ouvir dos filhotes palavras que soavam como música:
- Doutor ! Engenheiro! Advogado! Padre! Bancário do Banco do Brasil! Todos batiam palmas. Ninguém podia cair na besteira de dizer que queria ser artista porque sabia do risco de levar umas palmadas.
Eu conheci um menino, irmão mais novo de um amigo, que quando foi estimulado a pensar sobre o futuro brilhante que o aguardava surpreendeu a todos com a resposta mais improvável:
-Quando crescer eu quero ser um urubu.
A platéia silenciou. Uma tia mais compreensiva tentou uma explicação.
- Ele quer ser é padre, não é Guézinho.! O padre veste batina preta e ele está confundindo com um urubu.
O menino não arredou pé e confirmou aos gritos:
-Eu quero ser um urubu, mesmo!!!!
A avó, carinhosa, quis saber o porquê daquela escolha tão estranha e recebeu nova resposta:
-Eu quero ser um urubu pra voar. Eu quero voar como voa o urubu!
Alguns anos se passaram.
Fora da cidade, na zona rural, outro garoto de uns sete anos estava semeando uma roça de milho e feijão com os pais porque as primeiras chuvas de janeiro anunciavam um bom inverno. Lá pra de tardinha ouviu um som estranho que parecia vir do céu. Tirou o chapéu de palha amarelado e olhou pro alto do céu que já se avermelhava. Avistou alguma coisa reluzente, brilhante que voava em linha reta como um estranho pássaro com as asas incandescidas pela luz do sol e que deixava no céu uma risca de fumaça. Curioso, chamou a atenção dos pais e apontou pro céu querendo saber sobre aquela estranha ave. O pai apenas lhe disse o que sabia: aquilo era um avião e que um homem comandava aquele vôo. O menino, hipnotizado, não tirou os olhos do céu até que a noite chegou.
Nos dias que se seguiram a curiosidade do menino, apelidado de Françui, só foi acalentada quando o pai trouxe da feira um recorte de revista com a imagem de um avião. Daí por diante o menino não parou de brincar com aviões que construía com gravetos do mato, com sobras de madeira e mais na frente com folhas de flandres.
Hoje, aos 68 anos, Seu Françui não parou de ser criança porque sonha ainda comandar um vôo solo em um daqueles aviões de flandres que se espalham no hangar em que transformou sua pequena casa na beira de um canal da cidade de Araripe, no Ceará.
SEU FRANÇUI MORA NO ARARIPE, É ARTESÃO E ESTÁ PREPARANDO UMA “FORNADA” DE AVIÕES PARA UMA EXPOSIÇÃO DO CENTRO DRAGÃO DO MAR, EM FORTALEZA.
Que sutileza,
ResponderExcluirdesde o início...
Abraço,
Salatiel.