quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Quermesse

Os apaixonados
gostam de namorar
no alto da roda-gigante

porque além do frio na barriga
tem aquele leve balanço
e o grande suspense:

"agora o parafuso solta
se cair a cadeira
vou morrer abraçadinho
ao amor da minha vida..."

Giros, giros e giros
em torno da órbita

lua crescente
céu estrelado

e nunca se rompe
a porca -

balança mesmo no final
quando o homem do parque
com um sádico sorriso
brinda ao casal
o último solavanco.

Levantam-se então os apaixonados
com os olhos bobos de felicidade:

"graças que não caiu a cadeira
por Deus não morremos
eu e o meu amor abraçadinhos
pois ainda tem algodão-doce,
caldo de cana e bingo..."

Corados de tantos beijos,
digo, febris chupões

somem entre multidões
os dois felizardos
trôpegos de paixão
mancos de encantamento.

Mas pouco havia de durar
aquele extasiante namoro:

via-se de longe
as asas de um
o tridente do outro

e a cada passo
e a cada abraço
trocava-se de pele
o fogo do inferno.

Belo e glamouroso
teria sido se o parafuso
cedesse a porca rompesse
a cadeira despencasse
sobre a barraquinha
de cachorro-quente.

Só não aleijasse seu Zé,
o dono: pai de sete crias.

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