Fonte: O POVO
180 anos
Conselheiro, o beato peregrino de Quixeramobim
No último dia 13, Quixeramobim lembrou os 180 anos de nascimento de Antônio Conselheiro. O POVO aproveita para trazer aspectos desse cearense de biografia tão controversa
Thiago Mendes
Especial para O POVO
thiagomendes@opovo.com.br
O homem que desafiou quatro expedições militares da recém-criada República foi o mesmo que, de alpercatas e camisão de brim azul, percorreu o Nordeste consolando almas e pregando devoções. Há 180 anos, em Quixeramobim, nascia Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, líder da revolta de Canudos e guia de uma multidão de sertanejos cansados das agruras de um sertão de desigualdades.
Taxado de monarquista, fanático, “bronco”, “grande homem pelo avesso” & como anotou o autor de Os Sertões &, Antônio Conselheiro se resumia apenas como “peregrino”. Sem o livro de Euclides da Cunha, porém, é certo que a biografia do beato não tivesse atraído tantos estudos. Apesar da grandeza da obra, outras fontes históricas jogam luz para a constituição de um novo esboço sobre a figura do beato.
“Novos estudos passaram a se utilizar de fontes orais, ouvir filhos de sobreviventes e, hoje, muitos aspectos dessa figura de Conselheiro descrita por Euclides não se comprovam”, atesta Angela Gutiérrez, professora do departamento de Literatura da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Novas facetas
Para Angela, os manuscritos do líder de Belo Monte, reunidos sob o título Prédicas de Conselheiro, derrubam as teses de que ele seria iletrado, fanático e a favor da restauração da Monarquia no Brasil. “Você não encontra, dentro do que ele escreveu, nada de fanatismo. São sermões que poderiam ser pronunciados por qualquer padre de aldeia”.
Ainda segundo a professora, o único texto de teor político dos manuscritos comprova que, de fato, Conselheiro defendia um governo comandado por reis, cujo poder seria “outorgado por Deus”. Em momento algum, porém, Conselheiro fala de restauração monárquica ou do fim da República.
A professora Ana Maria Roland, também estudiosa da obra Os Sertões, diz identificar no que o senso comum classifica de “fanatismo” uma tendência a um cristianismo que se volta ao berço judaico. “É o retorno da espera da revelação do Messias. É um catolicismo que foge do cânone da Igreja”, avalia. Não à toa, o beato foi aclamado como “Bom Jesus do Conselheiro”.
Para Ana Maria, a biografia de Conselheiro revela um grande homem, principalmente quando deixa Quixeramobim e inicia sua peregrinação pelos sertões do Nordeste. “Conselheiro foi, sobretudo, um empreendedor. Por onde passava deixava uma obra: reformou igrejas e construiu cemitérios”.
SAIBA MAIS
PARA VER
>Guerra de Canudos (1997)
>Cicatrizes Submersas - Sala Descartes Gadelha, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade Federal do Ceará (UFC) - Av. da Universidade, 2854, Benfica.
PARA LER
>Notícias de Antônio Conselheiro, de José Calansans
>Antônio Conselheiro, de Abelardo Montenegro
Veja o caderno especial “Caminhos de Conselheiro”, publicado no O POVO em 1997
180 anos
Conselheiro, o beato peregrino de Quixeramobim
No último dia 13, Quixeramobim lembrou os 180 anos de nascimento de Antônio Conselheiro. O POVO aproveita para trazer aspectos desse cearense de biografia tão controversa
Thiago Mendes
Especial para O POVO
thiagomendes@opovo.com.br
O homem que desafiou quatro expedições militares da recém-criada República foi o mesmo que, de alpercatas e camisão de brim azul, percorreu o Nordeste consolando almas e pregando devoções. Há 180 anos, em Quixeramobim, nascia Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, líder da revolta de Canudos e guia de uma multidão de sertanejos cansados das agruras de um sertão de desigualdades.
Taxado de monarquista, fanático, “bronco”, “grande homem pelo avesso” & como anotou o autor de Os Sertões &, Antônio Conselheiro se resumia apenas como “peregrino”. Sem o livro de Euclides da Cunha, porém, é certo que a biografia do beato não tivesse atraído tantos estudos. Apesar da grandeza da obra, outras fontes históricas jogam luz para a constituição de um novo esboço sobre a figura do beato.
“Novos estudos passaram a se utilizar de fontes orais, ouvir filhos de sobreviventes e, hoje, muitos aspectos dessa figura de Conselheiro descrita por Euclides não se comprovam”, atesta Angela Gutiérrez, professora do departamento de Literatura da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Novas facetas
Para Angela, os manuscritos do líder de Belo Monte, reunidos sob o título Prédicas de Conselheiro, derrubam as teses de que ele seria iletrado, fanático e a favor da restauração da Monarquia no Brasil. “Você não encontra, dentro do que ele escreveu, nada de fanatismo. São sermões que poderiam ser pronunciados por qualquer padre de aldeia”.
Ainda segundo a professora, o único texto de teor político dos manuscritos comprova que, de fato, Conselheiro defendia um governo comandado por reis, cujo poder seria “outorgado por Deus”. Em momento algum, porém, Conselheiro fala de restauração monárquica ou do fim da República.
A professora Ana Maria Roland, também estudiosa da obra Os Sertões, diz identificar no que o senso comum classifica de “fanatismo” uma tendência a um cristianismo que se volta ao berço judaico. “É o retorno da espera da revelação do Messias. É um catolicismo que foge do cânone da Igreja”, avalia. Não à toa, o beato foi aclamado como “Bom Jesus do Conselheiro”.
Para Ana Maria, a biografia de Conselheiro revela um grande homem, principalmente quando deixa Quixeramobim e inicia sua peregrinação pelos sertões do Nordeste. “Conselheiro foi, sobretudo, um empreendedor. Por onde passava deixava uma obra: reformou igrejas e construiu cemitérios”.
SAIBA MAIS
PARA VER
>Guerra de Canudos (1997)
>Cicatrizes Submersas - Sala Descartes Gadelha, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade Federal do Ceará (UFC) - Av. da Universidade, 2854, Benfica.
PARA LER
>Notícias de Antônio Conselheiro, de José Calansans
>Antônio Conselheiro, de Abelardo Montenegro
Veja o caderno especial “Caminhos de Conselheiro”, publicado no O POVO em 1997
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