segunda-feira, 19 de abril de 2010

a brisa do basculante aberto

Acordar ausente de si.
Dormir fermentando sonhos.

O amor atemporal
sobre calçadas sujas
ainda remelentas da noitada.

Da loucura das mãos senhoras dos dedos
adentrando em territórios úmidos.

E era amor com todos os sentidos.
Atenta prontidão.
Exasperados uivos.

Quem disse que o amor
precisa ser manso.

Em um cantinho da sala
junto às plantinhas
e aos anjinhos
de porcelana.

O amor na verdade
eufórico.

Tapar os olhos.

Empurrar a vítima
ao inferno da memória.

Em chamas.

O amor é tudo o que dizem
aqueles que nunca amaram.

Na loucura deles
reina a fantasia.

Própria do amor.

Mas é na carne dos que amam
que o amor se exubera.

Se faz justo
e palpável.

Das quimeras
da moça à janela
mais toda a volúpia
dos beijos na escada

brilha então o amor
com a pompa necessária
do engano e do suicídio.

E não me venham suplicar
juízo diante da taça de vinho.

Os danados do coração
já aperfeiçoam o laço
no altar e na guilhotina.

Porque quem ama
deseja vinho
como pede morte
no cadafalso.

Juntas as almas.
Próximos os corpos.

Até que o milagre floresça
bem mais que os sonhos

e cada qual não se veja
perca de vez e para sempre
a total compreensão do outro.

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