domingo, 11 de abril de 2010

é, meu velho

é, meu velho
o tempo passa bonito
bacana mesmo água debaixo da ponte
nuvens apressadas acima da tua cabeça.

é, meu velho
teus olhos como sempre
doces acres cactos coqueiros

e as faces nunca mudam
pois a tez não conheço

se pardo ou negro
índio ou português

apenas vejo o mocotó no fogo
a fumaça subindo

as brasas rubras
os olhos do caboclo.

é, meu velho
ouvir o gargarejo do filho

(lições para desprender a língua
do céu da boca e fazê-la ágil
entre os dentes)

como pular no abismo
da tua própria infância.

é, meu velho
o tempo não se limita
à tua memória logo adiante
têm mais flores nascendo
e novas formiguinhas
em fila indiana
no caminho do banheiro.

O vaso é uma montanha
lisa louça inusitada
mas as formiguinhas
em busca de açúcar
teimam escorregam
sobem.

é, meu velho
foi um final de semana
vazio por isso amplo

de tal forma
que não há modelos
texturas, tangências.

Apenas o vazio
sincero e definitivo.

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