Tenho um sorriso de ogro:
sumiu um dente da frente
gasto por tantos sonhos.
Outro suspenso amarelo
encostado a uma presa.
Vejo agora claramente
o pântano sombrio.
Natural, então,
as madames fugirem trêmulas
as ninfas se mijem de medo.
Tenho um sorriso
Corcunda Notre Dame.
Minha alma envergonhada.
Nem o vento do Himalaia
consegue abrir a janela.
Ó sorriso sinistro.
Tosco.
E o poeta escova
todos os dias:
manhã (ao cantarem os galos),
após as refeições, antes de dormir.
Mesmo assim,
nem lúcifer suporta
meu riso medonho.
Recorro aos caridosos espíritos
que me abrigam debaixo das asas:
"meu caro, tens 44.
Trata dos teus dentes de asno..."
"E meu hálito?" (interrogo aflito)
"Pétalas!" (gracejam)
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