segunda-feira, 5 de abril de 2010

o terror do aedes

Tarde quente,
escada no ombro

e quem passa
em suas carruagens
pensa, deduz, imagina:

"uma mísera criatura,
um ser infeliz."

O suor ensopa
arranha meus óculos.

Minha virilha assada.
Meus pés dentro do forno da bota.

O inusitado, no entanto,
chama-lhes atenção:
minha altivez no caminhar
meio dono do pedaço.

Não sabem eles
(nem a grana revela)
que loucura me habita:
poeta, bárbaro, bruxo.

O dia todo na labuta
gladiador de mosquitos
com escada, bolsa,
diflubenzurom e seringa

mas a alma (ou outra coisa além mar)
pisa solo, bate asas, sobe caixas
olha ralos, mergulha no vão do bueiro

como se o corpo não houvesse
como se não sangrassem os calos
como se não queimasse o couro cabeludo.

Em suas carruagens elegantes
no estalo de um raio
faz-se um mistério
quando ousam me encarar.

Não entendem mesmo (nem a grana revela)
como pode um sujeito sob tal sol violento

repartir esse riso lírico
no canto dos lábios.

Deus é um pai bondoso,
diria eu.

Amanhã chove.

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