Afirmando que a “revolução” (aspeado para especificar que é a marxista ou comunista que fala) se encontra num beco sem saída, Antonio Cícero, poesia, arte, filosofia, crítica, literatura e política, pretende pular o muro do beco. Qual beco e como?
O beco da superação do capitalismo e suas mazelas, o qual “nem os marxistas podem pretender saber como seria”. Como todo bom conservador, aponta o dedo para aqueles que pretendem revolucionar as estruturas vigentes do capitalismo.
E qual a acusação? A de que, pretensamente, se “julguem superiores e desejem o monopólio ético”. Superiores a quem? A todos que não tenham feito a crítica do “capitalismo, da propriedade privada dos meios de produção, das diferentes classes sociais nem dos flagelos da exploração e da opressão do ser humano pelo ser humano.” Em outras palavras quem faz esta crítica apenas ler horóscopo de astrologia como a muleta que vai buscar em Theodoro Adorno.
De qual ética? Da ética entranhada em Antonio Cícero. O valor intrínseco do modo de produção capitalista, do progresso decorrente deste e da democracia (que ele não gosta que se diga burguesa). Como valor intrínseco, o filósofo, que fez sucesso com as letras das canções da irmã, naturaliza o capitalismo e o declara irremediavelmente parte do mundo e das pessoas. Como disse, com outras palavras, um pouco mais eruditas, Yoshihiro Francis Fukuyama, o liberal mor do “fim-da-história”.
Este pequeno texto de Antonio Cícero, publicado aqui no Cariricult, por um fato curioso, talvez porque tenha gostado da pedrada crítica que poderia dar nos marxistas, não se apercebeu que ele era o próprio exemplo que Adorno apresentava. Ora, o texto parece não dar conta que o próprio capitalismo é fruto da superação de outro momento da história, conhecido como feudalismo. E que esta observação, apontava para aquilo que Marx foi, de alguma forma buscar em Hegel, que é o movimento da história. E veja que lá no final é neste “fluxo incessante” que ele busca sua solução.
Aliás, a superação do feudalismo não se deu apenas no campo das idéias (como forma acadêmica, pois em última instância as idéias representam a vida material e ética de todos), mas criando novas categorias sociais, econômicas e políticas tais como a burguesia, o operariado, o campesinato, as instituições burguesas, as lutas de classes, e no campo político a direita (ou conservadorismo agora não mais revolucionário da burguesia), a esquerda (oriunda das novas categorias sociais em luta com a burguesia) e toda alternativa ao conservadorismo como o Comunismo, Socialismo, Social Democracia, Anarquismo e outros mais.
Mas, ao, tentar, condenar os marxistas e comunistas a um beco sem saída, olhe que Antonio Cícero usa as mesmas categorias críticas da direita política contra os regimes comunistas e a social democracia nos anos noventa, quando o Muro de Berlim caiu. Pelas beiradas para não se mostrar de cara, pois ele não tem o caminho da superação, mas do aperfeiçoamento.
E tem um viés em Antonio Cícero que retorna novamente à citação de Adorno: o uso acadêmico das citações, a esgrima de citações para apenas confundir ou calar o “adversário” no campo das idéias. Ora trazer Badiou ou Mao Tsé Tung, fora do contexto das complexas análises que fizeram é apenas dar palavra final, em cima das costas de gigantes, especialmente se este não foi apenas teórico mas parte da práxis marxista.
E pronto e acabado, com alguém comentando que os socialistas pensam em dividir os bens dos outros, o pulo do muro que fecha o beco sem saída dos marxistas. E tem mais, com um tremendo “ato falho” ao citar que a miopia ideológica impede de ver que se tenha revelado um beco sem saída. Finalmente vamos não à crítica ao marxismo mas à contribuição de Antonio Cícero: é possível melhorar o mundo, “ele se encontra em fluxo incessante, com uma sociedade aberta, os direitos humanos, a livre expressão do pensamento, a maximização da liberdade individual compatível com a existência da sociedade, a autonomia da arte e da ciência etc. -que constituem exigências inegociáveis da crítica, isto é, da razão- constituem também as verdadeiras condições para torná-lo melhor”.
Tudo naturalizado: a sociedade é aberta sem a intermediação do dinheiro, os direitos humanos frutificam em árvores, a expressão do pensamento é livre como o céu é do “avião de carreira”, o indivíduo tem liberdade máxima compatível com as regras vigentes, as artes e a ciência não são intermediadas por capitais e poderes familiares e de grupos. Sinceramente, confesso minha incapacidade para criticar tal texto, o melhor seria recorrer a Stanislaw Ponte Preta e seu magistral Samba do Crioulo Doido.
O beco da superação do capitalismo e suas mazelas, o qual “nem os marxistas podem pretender saber como seria”. Como todo bom conservador, aponta o dedo para aqueles que pretendem revolucionar as estruturas vigentes do capitalismo.
E qual a acusação? A de que, pretensamente, se “julguem superiores e desejem o monopólio ético”. Superiores a quem? A todos que não tenham feito a crítica do “capitalismo, da propriedade privada dos meios de produção, das diferentes classes sociais nem dos flagelos da exploração e da opressão do ser humano pelo ser humano.” Em outras palavras quem faz esta crítica apenas ler horóscopo de astrologia como a muleta que vai buscar em Theodoro Adorno.
De qual ética? Da ética entranhada em Antonio Cícero. O valor intrínseco do modo de produção capitalista, do progresso decorrente deste e da democracia (que ele não gosta que se diga burguesa). Como valor intrínseco, o filósofo, que fez sucesso com as letras das canções da irmã, naturaliza o capitalismo e o declara irremediavelmente parte do mundo e das pessoas. Como disse, com outras palavras, um pouco mais eruditas, Yoshihiro Francis Fukuyama, o liberal mor do “fim-da-história”.
Este pequeno texto de Antonio Cícero, publicado aqui no Cariricult, por um fato curioso, talvez porque tenha gostado da pedrada crítica que poderia dar nos marxistas, não se apercebeu que ele era o próprio exemplo que Adorno apresentava. Ora, o texto parece não dar conta que o próprio capitalismo é fruto da superação de outro momento da história, conhecido como feudalismo. E que esta observação, apontava para aquilo que Marx foi, de alguma forma buscar em Hegel, que é o movimento da história. E veja que lá no final é neste “fluxo incessante” que ele busca sua solução.
Aliás, a superação do feudalismo não se deu apenas no campo das idéias (como forma acadêmica, pois em última instância as idéias representam a vida material e ética de todos), mas criando novas categorias sociais, econômicas e políticas tais como a burguesia, o operariado, o campesinato, as instituições burguesas, as lutas de classes, e no campo político a direita (ou conservadorismo agora não mais revolucionário da burguesia), a esquerda (oriunda das novas categorias sociais em luta com a burguesia) e toda alternativa ao conservadorismo como o Comunismo, Socialismo, Social Democracia, Anarquismo e outros mais.
Mas, ao, tentar, condenar os marxistas e comunistas a um beco sem saída, olhe que Antonio Cícero usa as mesmas categorias críticas da direita política contra os regimes comunistas e a social democracia nos anos noventa, quando o Muro de Berlim caiu. Pelas beiradas para não se mostrar de cara, pois ele não tem o caminho da superação, mas do aperfeiçoamento.
E tem um viés em Antonio Cícero que retorna novamente à citação de Adorno: o uso acadêmico das citações, a esgrima de citações para apenas confundir ou calar o “adversário” no campo das idéias. Ora trazer Badiou ou Mao Tsé Tung, fora do contexto das complexas análises que fizeram é apenas dar palavra final, em cima das costas de gigantes, especialmente se este não foi apenas teórico mas parte da práxis marxista.
E pronto e acabado, com alguém comentando que os socialistas pensam em dividir os bens dos outros, o pulo do muro que fecha o beco sem saída dos marxistas. E tem mais, com um tremendo “ato falho” ao citar que a miopia ideológica impede de ver que se tenha revelado um beco sem saída. Finalmente vamos não à crítica ao marxismo mas à contribuição de Antonio Cícero: é possível melhorar o mundo, “ele se encontra em fluxo incessante, com uma sociedade aberta, os direitos humanos, a livre expressão do pensamento, a maximização da liberdade individual compatível com a existência da sociedade, a autonomia da arte e da ciência etc. -que constituem exigências inegociáveis da crítica, isto é, da razão- constituem também as verdadeiras condições para torná-lo melhor”.
Tudo naturalizado: a sociedade é aberta sem a intermediação do dinheiro, os direitos humanos frutificam em árvores, a expressão do pensamento é livre como o céu é do “avião de carreira”, o indivíduo tem liberdade máxima compatível com as regras vigentes, as artes e a ciência não são intermediadas por capitais e poderes familiares e de grupos. Sinceramente, confesso minha incapacidade para criticar tal texto, o melhor seria recorrer a Stanislaw Ponte Preta e seu magistral Samba do Crioulo Doido.
Vão te chamar de .... marxista!
ResponderExcluirrsrsrsrsrsrsrs
Mais uma vez endosso suas palavras.
Saudações marxianas e marxistas.
Segundo Marx, o socialismo seria a superação do capitalismo. Até hoje não se conseguiu tal superação, a História do século XX mostrou-nos apenas aqueles regimes ditatoriais tidos como de esquerda, capitaneados pela ex-URSS. Bom não esquecer, quase todas aquelas ditaduras (não do proletariado, mas dos PCs) reverteram ao capitalismo, à exceção da China (regime híbrido: pra fora capitalista, por dentro comunista e que apenas após essa mudança conseguiu despontar no cenário econômico global); e a decantada ilha caribenha da qual os que conseguem pulam fora, pra nunca mais retornar. Portanto defender o socialismo significa abraçar uma utopia
ResponderExcluirSegundo Marx (e também Engels e outros) o proletariado deveria se unir e construir uma nova ordem, que foi chamada de socialista.
ResponderExcluirEle não disse que o socialismo suplantaria o capitalismo...
Mas esse tipo de afirmação é idêntica àquela que repete que os socialistas querem dividir a riqueza dos outros e guardar as suas.
E já que a referência é sobre a crítica de Cícero, lá da direita da Marina, "a priori" ele deve aceitar a réplica, afinal não é intolerante como os marxistas.
ResponderExcluirPois bem, tenha ou não tenha dito Marx que o socialismo seria a superação do capitalismo, não entendo como uma nova ordem criada não iria constituir a superação da antiga. Fato é que o chamado "socialismo real" não constituiu uma nova ordem mais justa para as pessoas comuns, que não integravam a direção dos partidos comunistas dominantes naquelas abomináveis ditaduras, tidas como de esquerda.
ResponderExcluirDe modo geral, os grandes ciclos da história, ou seja, a superação de um ciclo em razão de um outro, tornou-se diferente à partir do Renascimento, da Colonização Ocidental das Américas, do Iluminismo e da Revolução Francesa, com a consolidação da burguesias comercial, industrial e financeira. Em que sentido é diferente?
ResponderExcluirPela sistematização do pensamento, pelo acesso à educação, a grande taxa de urbanização, o livro escrito, a comunicação de massa, a possibilidade de guardar enormes registros de idéias e fatos e, finalmente, os próprios meios de comunicação. Isso acelerou o processo e promoveu uma unidade entre iguais que se tornou política e, portanto, objeto de ação transformadora.
A Revolução Inglesa criou as bases, a Americana o futuro e a Francesa o Arcabouço Institucional da Burguesia. Mas aí, é que vem a novidade, muito distinta daquele da transição entre o sistema escravagista da antiguidade e o feudalismo, agora as categorias que participaram da superação do feudalismos, já tinham mecanismos de unidade para uma luta mundial.
No século XIX foi isso que Marx e Engels sistematizaram. Não foi um catecismo de saber-se com quais credos se rezarão as orações vespertinas e matinais. A realidade é mais complexa e a emergência revolucionária mais ainda. Ninguém luta apenas por ser iluminado por um flash ideológico, mas sobretudo pela sua realidade e pela condição histórica de que é possível achar alguém em iguais situações a quem se juntam. É isso aí.
Não adianta ficar repetindo o mantra da guerra fria ou o discurso dos liberais anos 90. Qualquer um pode derrubar o letreiro luminoso do império da democracia liberal, sua manipulação, a ditadura do poder econômico, a falta de acesso aos meios que medeiam a informação, o horror nuclear, o consumismo predatório, o terrorismo real pela ação de bombas e de ameaças e lista segue ao infinita, inclusive com a seletividade dos milhões de presos em cárceres privatizada em nome do geral da sociedade. A última do império se encontra no campos de concentração do Colorado com fito único de prender latino americanos.
Enfim, se o debate das agruras deste tempo fosse fazer a contabilidade das maldades do tempo, tudo seria apenas um fla x flu. Mas não é. O buraco é mais embaixo e a realidade cheia de contradição e lutas intensas. Quem vive sabe e que viverá saberá de muito mais.
Apesar da retórica, o que eu vejo mesmo nesse mundo capitalista do sertão é muita exploração, baixos salários, desigualdade e injustiça.
ResponderExcluirE sei que desse jeito, o resultado pode ser a barbárie.