A vaidade vive enlaçada
ao corpo e à alma do sujeito
de modo
que nem se sabe
ao certo
quem é lúcido
quem é louco
dada a penumbra
em volta dos olhos
e toda lágrima
que desce
e todo sorriso
que se abre
apenas o desejo
dos passos adorados
mesmo que o outro
esteja morto.
A vaidade do sujeito
é uma praga
natural, íntima,
frequente, oculta.
Não importa quem negue
ou quem acolha
os males tão antigos
quanto o poço do umbigo
quanto as presas do javali.
Bem mais vaidoso
é aquele poeta
que tranca a cara
que faz bico.
Prefere a morte
a que lhe arranquem
a máscara.
Máscara preciosa
mas vazada
por onde se perdem
grãos de areia
e grãos de mostarda.
Trágico engano
não perceber o poeta
que a vaidade o seu trunfo
entre paredes
e o vazio.
Caso não fosse
a própria tormenta
seu álibi e sua ventura
seria o mísero poeta
um barquinho de papel
ao livre arbítrio do vento.
Basta um gravetinho
no meio do caminho
suspende o destino
e afoga o marujo.
Que beleza então haveria
em escrever versos
e não ser lido
em degolar fantasmas
e não ouvir correntes
pelo corredor escuro?
Veste teu casaco
da malícia
calça tuas sandálias
da soberba
e recebe de bom grado
tua indolente graça
em dissecar ideias
objetos, vultos
sombras.
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