domingo, 23 de maio de 2010

leviatã

A vaidade vive enlaçada
ao corpo e à alma do sujeito
de modo

que nem se sabe
ao certo

quem é lúcido
quem é louco

dada a penumbra
em volta dos olhos

e toda lágrima
que desce

e todo sorriso
que se abre

apenas o desejo
dos passos adorados

mesmo que o outro
esteja morto.

A vaidade do sujeito
é uma praga

natural, íntima,
frequente, oculta.

Não importa quem negue
ou quem acolha
os males tão antigos

quanto o poço do umbigo
quanto as presas do javali.

Bem mais vaidoso
é aquele poeta

que tranca a cara
que faz bico.

Prefere a morte
a que lhe arranquem
a máscara.

Máscara preciosa
mas vazada

por onde se perdem
grãos de areia
e grãos de mostarda.

Trágico engano
não perceber o poeta
que a vaidade o seu trunfo

entre paredes
e o vazio.

Caso não fosse
a própria tormenta
seu álibi e sua ventura

seria o mísero poeta
um barquinho de papel
ao livre arbítrio do vento.

Basta um gravetinho
no meio do caminho

suspende o destino
e afoga o marujo.

Que beleza então haveria
em escrever versos
e não ser lido

em degolar fantasmas
e não ouvir correntes
pelo corredor escuro?

Veste teu casaco
da malícia

calça tuas sandálias
da soberba

e recebe de bom grado
tua indolente graça

em dissecar ideias
objetos, vultos
sombras.

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