sexta-feira, 28 de maio de 2010

Rumores

Não é novidade:
sei que não bato bem do juízo.

Há uma mola, parafuso, pino
fora do encaixe.

Da mesma forma que poesia
não é prerrogativa da natureza.

Ou seja,
pôr do sol,
chuvinha fina,
estrelas.

Encontro poesia com frequência
no meu cotidiano entre objetos
e bichinhos caseiros.

Raramente me debruço
sobre o parapeito da varanda
a suspirar por uma lua cheia.

Meus chinelos marcados
pelo suor dos dedos
a toalha mofada
sobre o cesto de roupa suja
o prato debaixo do pingo da torneira

é tudo uma paisagem poética
tão grandiosa que me causa
falta de ar e falta de apetite.

Sem respirar fica impossível escrever.
Sem comer uma pizza o sujeito não vive.

Então prossigo minha ventura.
Roubando do inanimado alma.
Aplicando serotonina nas paredes.

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