Não é novidade:
sei que não bato bem do juízo.
Há uma mola, parafuso, pino
fora do encaixe.
Da mesma forma que poesia
não é prerrogativa da natureza.
Ou seja,
pôr do sol,
chuvinha fina,
estrelas.
Encontro poesia com frequência
no meu cotidiano entre objetos
e bichinhos caseiros.
Raramente me debruço
sobre o parapeito da varanda
a suspirar por uma lua cheia.
Meus chinelos marcados
pelo suor dos dedos
a toalha mofada
sobre o cesto de roupa suja
o prato debaixo do pingo da torneira
é tudo uma paisagem poética
tão grandiosa que me causa
falta de ar e falta de apetite.
Sem respirar fica impossível escrever.
Sem comer uma pizza o sujeito não vive.
Então prossigo minha ventura.
Roubando do inanimado alma.
Aplicando serotonina nas paredes.
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