quarta-feira, 19 de maio de 2010

São os paises emergentes! Estúpido! - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Se afirmasse que a compreensão do Acordo Brasil-Turquia-Irã estaria confusa em razão das eleições, não erraria muito. As “torcidas” principais usam o fato para um lado ou outro. A grande mídia também se eximiu de comunicar em favor de uma torcida contra o governo.

Não erraria muito, mas erraria de algum modo. Este acordo diz de coisas bem diferentes do que simplesmente discutir sanções ou a via diplomática, embora ambas as medidas sejam essenciais na história. Compreendem-se duas questões históricas essenciais neste acordo.

A primeira é que desde a Guerra do Iraque/Afeganistão, inclusive a vulnerabilidade do território americano pela derrubada das torres gêmeas de N. York, ocorre uma profunda mudança no modelo do capitalismo internacional. Isso, tomando como foco de visão, os Estado Nacionais. Até então e desde o século XIX, vivia-se a fase imperial do sistema. Uma fase em que pólos de dinamismo do capitalismo eram hegemônicos em relação ao restante dos povos, mais atrasados e sobre intensa pressão por mudança em suas culturas, inclusive milenares.

Quando os doutores do Neoliberalismo compreenderam a globalização pelo sistema financeiro internacional e vaticinaram sua necessidade, não viam que ali se encontrava um dos sinais da quebra de hegemonias e de impérios. As grandes economias, remanescentes da hegemonia bipolar da guerra fria, estavam presas da ciranda desenfreada dos capitais globalizados.

A Rússia, de profundas reformas liberais, o Brasil, o México, Argentina e vários países do Sudeste Asiático, por serem mais frágeis, se afogaram em crises. Literalmente quebraram e sacrificaram seus povos. Depois foi o Império principal, agora a Europa. Então, surgem movimentações ousadas das diversas nações emergentes querendo um multilateralismo de fato.

O acordo Brasil – Turquia – Irã representa nova forma de compreender as nações numa globalização não tão hegemônica e unipolar. Agora, se tentam alternativas mais negociadas, em que diversas visões poderão entrar em cena, quando as assembléias e grandes reuniões para discutir divergências serão mais freqüentes e necessárias.

A segunda questão se encontra no próprio objeto do acordo. A Energia Nuclear ou toda e qualquer energia que venha do estudo das partículas. O futuro será por aí e a multilateralidade é incompatível com uma propriedade privada de meia dúzia de impérios. O mundo vai a busca de energia e massa para garantir esta civilização técnico-científica.

O acordo não se resumirá à questão da sanção ou não sanção. Os países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, controlando a energia nuclear, se manifestam favoravelmente a um esboço norte americano de sanções. Brasil, Turquia e Irã agem numa esfera maior do que o problema do uso desta energia pelo Irã. Na prática atacam o ensaio dos privilegiados em criar um “banco central” para controlar toda a manipulação científica e técnica da energia nuclear.

Agora vem a contradição. Nesta interdependência global, com o capitalismo numa grande crise, como os “grandes” se imporão aos demais? Como a China se expandirá entre emergentes? A Rússia retornará ao seu protagonismo? França com a forca do Euro no seu pescoço?

Então, antes que as torcidas briguem, examinem que, além do “jogo” que vêm na política, vem a política como o sangue circulante mantendo o conjunto das células vivas.

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