quarta-feira, 9 de junho de 2010

Din-din de uva

Os animais exigem que a voz humana ordene, grite, comande, brigue, adestre, use onomatopéias...ela não gosta de alterar seu tom de voz. Os pássaros nas gaiolas que o seu irmão sopra água da boca nas penugens nos dias de calor, ele não abre as portinholas, cuida como um possuidor. Ama a natureza? O agressor de mulheres cuida das companheiras como um possuidor. Ama a companheira?
Está sentada olhando nuvens, não cria animais, odeia cachorros. O latido agride os ouvidos, cocô para apanhar todos os dias, o voluntarismo dos cães exige domínio e austeridade, pulso firme, timbre forte, não se sente bem mandando. E se tornara uma executiva num posto de comando. As relações humanas exigem menos do que criar animais. Havia uma plaquinha em sua mesa de escritório, uma frase curta, mas não grossa: o elogio espanta a razão, sem autoria, pintada de amarelo como a cor do semáforo, ou a dizer: atenção, não puxe meu saco. Fórmulas de convivência. Caberiam no seu perfil metódico, mas deixa que a intuição acerte e alerte antes que prestes a errar, nunca diz não imediatamente, acha que isso funciona bem, talvez seja a fórmula. Se as pessoas esperam ouvir: talvez, pode ser, farei o possível, deveria decepcionar os esperançosos? As más notícias para a última hora conveniente. O não protelado, parecendo à revelia de um esforço despendido na intenção de satisfazer, quando chega é bem compreendido pelo colega de trabalho. E funciona também ou tão bem para o amigo, o filho, o namorado...
Não morava com ninguém. Defensora do sexo natural, vive dando opiniões contra as campanhas anti-aids que acha hipócritas e lascivas sendo extremos de uma mesma intenção. Acha gozado provocar a lealdade que ficou lá no fim do palco, o pano de fundo, lá do fundo das coxias, ainda nem faz parte do cenário. A peça continua, disfarçada, distraindo, o público aplaude, ô iéss. O sexo plastificado, e a igreja que não sabe justificar porque é contra. Ela sabe. Sabe dos bichos que detesta por perto; dos homens que adoram mamar, serem cuidados, gostam de parceiras que parecem não trair, boas moças ainda casam e todas as sextas-feiras o cartório está cheio de noivinhas. Cachorros fazem sexo no meio da rua e a vida humana anda ultimamente cheia de precauções estapafúrdias. Casam-se, e mesmo assim protegem com plástico os próprios sentimentos, que com o tempo se tornam plásticos...e ainda sorridentes. Sonhou pichando muros nas ruas de madrugada, frases, dizia numa delas: plastifiquem os promíscuos, a camisinha é para eles! Pensa nisso e veste os pênis promíscuos que a penetram ocasionalmente - há pessoas e pessoas e quase todas as pessoas cada vez mais disponíveis. Confiança baseada no nada é confiança. O nada é um Deus em si mesmo, e é forte, o nada que se constrói dentro de si representa quem somos, e exatamente nada disso conta para uma fatalidade? Ou sim? Não crê em fatalidades! Nem em ser ou não ser. Merecer ou não merecer, eis a questão. Invenção de inventar máximas, - isso é tão fora de moda quanto a própria filosofia – e a sua sorte é escrever só pra si mesma. Morre-se mais vivendo precavido do que acreditando na humanidade. Morre-se traindo parceiros e parceiras, mesmo plastificados. Os bichos transam sem amar. As gentes a imitá-los. E sente que precisa se incluir na questão antes de concluir o pensamento.

Abraços...e beijos.

5 comentários:

  1. 'tá com a cachorra, menina!!!(e tem aquela música, tipo programação EXPOCRATO,"chupa que é de uva").

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  2. Marta reaparece nos devolvendo a pluralidade de gênero. O blog estava muito cheio XY. E volta, do ponto de vista de algumas posturas tidas como avançadas, com algo mais "conservador" com a visão de uma mulher específica, que refuga a "proteção" plastificada e que imagina o retorno da vontade de lealdade. Por isso é importante este toque, este mundo, da mulher que a Marta faz num estilo que em pequeno texto faz um apanhado da mulher em muitas situações. Li com atenção e o que perdi estou disposto a reler.

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  3. Um monólogo.
    Acabei de filmar.

    Personagens entram.
    Saem. E são imagens vivas.
    Pensamentos. Risos sarcásticos.
    Dentro no carro.
    Diante do espelho no banheiro.

    Carinhoso abraço.

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  4. Adoráveis sedutores, amo vcs.

    Obrigada pelos comentários.

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