quinta-feira, 10 de junho de 2010

Distrações

Quantas delícias perco.
Tomo sorvete como se comesse capim.

O prazer da fértil mijada
agora um olhar assustado.

Rumino.
Papada flácida pelo pescoço.

Olhar grave.
Cenho enrugado.

Preciso com urgência
colar o vaso de porcelana.

Um quebra-cabeça.
Não estourar os miolos.

Quanta vida desperdiço.
Bebo água como se morresse.

Não é bom tanta sede.
Pasto.

Preciso encher o aquário.
O peixinho me olha aflito.

Tentarei novamente
ensinar xadrez
ao meu filho.

O garoto prefere
playstation.

Belo o seu riso.
Gargalhada santa.

Perfume.
Feijão na panela.
Vem do apartamento de cima.

O vizinho ouve
Vanessa da Mata.

Preciso cortar meu cabelo.
Não bebo sexta.

Não bebo.
Juro.

Lavar a louça.
Não quebrar o copo.

Talvez eu corte hoje.
O dedo.

Prometo.
Só o dedo mindinho.
Ver de novo meu sangue.

Saudades de quem não conheço.
Da voz rouca.
Da piscina.

(tu tens uma piscina
e uma voz rouca?)

Um mergulho.

Deixa-me.
Não me afogo.

Devo agora meditar
ouvindo o barulho
da descarga.

Quem sabe
eu seja louco.

Quisera.
Quimera.

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