terça-feira, 8 de junho de 2010

A filosofia da solidão e da coisa finita - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Existe uma vasta literatura sobre o impacto da descoberta do Novo Mundo em termos da compreensão que os europeus tinham de si. Segundo esta linha, textos filosóficos foram desenvolvidos no sentido da alteridade, uma vez que um “outro” havia surgido no horizonte da cristandade milenar. Este outro era o indígena ocidental, os povos ameríndios.

A aventura marinheira do Atlântico e depois no Índico e no Pacífico dera ao pensamento europeu um sentido de alargamento de horizontes e de diferenciação ainda maiores do que a que já conheciam de diferente no seu próprio continente. Houve, simultaneamente, uma revolução técnica, antropológica e outra de espaço.

E o mais importante, esta aventura não se restringiu aos europeus, simultaneamente se homogeneizou no globo inteiro, já que ser globo era uma noção pronta e acabaDA nesta altura. O comércio mundial, as expansões filosóficas, a ciência em todas as culturas e a revolução tecnológica ao mesmo tempo, tornaram o mundo uma só coisa. Uma coisa só.

Só uma coisa.

E aí reside um dos nossos dramas filosóficos de vivermos numa “coisa” e desta ser apenas “uma” no raio de espaço ao alcance da humanidade. De repente foram lá em cima e aquele “cosmo” inteiro, que já fora o centro de tudo, se tornou apenas uma pérola azul no meio de um universo brutalmente maior. Tão maior que não temos a menor esperança de atingir qualquer horizonte habitável por seres humanos nos anos vindouros e quem sabe até o fim da espécie.

O fim da espécie.

Outra grande revolução do após a descoberta do mundo novo. Toda a cosmogênese que se conhecia, toda a teogonia que se escrevera e passara por milhares de anos de uma geração à outra, agora tinha um horizonte antes e depois. Os humanos eram posteriores ao nascimento das espécies, evoluíra como todas e tendem, pelo que se conhece das demais, ao fim.

Vivendo numa forma de “aquário” minúsculo no meio de um oceano cósmico, a humanidade além do mais era, temporalmente, muito menor que o próprio mundo. O mundo já fora antes vários diferentes do que este que se presta para a espécie humana. Enfim a humanidade se descobre limitada e solitária.

Até mesmo a divindade migra para o território dos medos ancestrais, da insegurança diária, do esvaziamento de sentido da vida material, já que a espiritual corre perigo. A rigor não é muito diferente, em certo sentido, daquela alienação religiosa dos tempos dos “senhores” da terra que tudo podiam contra os camponeses. Deus não era uma solução humana, era uma fuga para além da opressão e da fragilidade diante do senhor ou da majestade armada e guerreira.

Estamos neste vazio filosófico que por certo existe diante dos fluxos do capital financeiro que “tudo” podem determinar na sobrevivência de cada um. De cada povo, de cada família ou comunidade.

Quando olhamos para as fotos do planeta azul temos uma nostalgia imensa da sua dimensão cósmica de antigamente, de seus horizontes intransponíveis e dos mistérios que existiriam na região do além. Nem a mais remota floresta deixa de ser poluída como a mais separada ilha dos mares do sul. Não existe mais nada escondido, tudo está revelado e uma espada espreita a vida finita de cada um.

E agora temos um espaço imenso para conquistar rigorosamente com senhas filosóficas da coisa solitária e do fim da espécie. Efetivamente a humanidade tem que se reinventar. Este momento lhe é terrível apesar de tanto progresso material no meio de tantos cadáveres.

5 comentários:

  1. José do Vale Pinheiro Feitosa,
    forte abraço.

    Justamente este vazio
    a grande concha
    que cada ser tem
    dentro de si.

    A pérola
    (brilhante ou turva)
    sim, a descoberta
    que se faz (ou se imagina)
    em cada pessoa na sua individualidade.

    Embora fatos históricos
    (de todos os feitios)
    esclareçam a trajetória
    da humanidade

    na hora do mergulho
    do precipício abissal
    dentro do nosso silêncio:
    é tudo muito rápido.

    É tudo uma questão de morte.
    E renascimento.

    Eis então o valor da liberdade.

    Criar seu próprio silêncio
    diante da sua própria morte
    e do seu próprio renascimento.

    Obrigado pelo seu texto.
    Suscitou-me este pensamento.

    Outro forte abraço.

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  2. Oi! desculpa! comentei no blog errado mesmo! pensei que fosse um chamado carricult do thiago, entrei e vi ele todo diferente, rs. Mesmo assim o blog é lindo, tá de parabéns. A idéia de um blog cultural é muito boa! vou ficar acompanhando por aqui! bjo

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  3. zé do vale, essa garota entrou numa postagem minha. havia se enganado de blog(sic!). agora entrou no blg certo e errou de postagem.

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  4. Domingos acho que poderias ir adiante.

    E. Suruba aqui é um bom coletivo.

    Lupin, é verdade eu tinha lido o comentário na tua postagem.

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  5. José do Vale Pinheiro Feitosa,
    ir adiante todos podem.

    Desgraça é quando as ideias
    pedem água e iguarias.

    E muitas vezes morre
    de sede e de fome o sujeito
    sem nada ter a dizer
    senão névoas.

    O desenlace do fio filosófico
    (acredite) é a humildade
    em não se tornar extenuante
    e falho.

    Forte abraço.

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