sábado, 19 de junho de 2010

Rir com animação - Emerson Monteiro

Outro dia, assistindo ao programa Ceará DiVerso, do poeta Vandinho Pereira, na TV Verde Vale, me deparei com o personagem Tranquilino Ripuxado narrando uma de suas histórias engraçadas, que repasso aos leitores do jeito que pude guardar:
Dois compadres que se reencontravam e um deles perguntou ao outro:
- Manoel, você soube da morte de seu Joãozinho do Brejo?
- Soube, sim, compadre. Fui até no enterro dele.
- Pois é, compadre. Eu estava viajando e nem pude comparecer nas despedidas do amigo velho. Mas, compadre, diga como foi lá. Na ocasião, tinha muita gente?
- Ora, compadre, gente, tinha um tanto de gente. Só que nunca vi povo tão sem entusiasmo.
Bom, com esta rápida introdução, quero para falar um pouco da urgência do riso franco, verdadeiro, aberto, nas pessoas dos tempos atuais. Riso mesmo, cheio desse entusiasmo que, por vezes, invade todos os lugares. A história, modelo de irreverência, demonstra que o ato de existir pede alguma participação, vibração, interesse, inclusive na hora das exéquias dos rituais comunitários.
É isso que falta nestes dias de muito compromisso e pouca esportividade, gosto de viver e se animar nas celebrações da existência. Um povo frio, técnico, sisudo, dotado de grandes habilidades no volante dos automóveis, cumpridor das normas e obediências formais, no entanto exausto só de correr atrás da sobrevivência desenfreada.
Numa fase de esforço e preocupação com o dia de amanhã, para si e os seus familiares, patrimônio, fama, trajes e viagens apressadas, festas reservadas, salões atapetados, conjunturas e expectativas, quase nada se nota das cenas de cumplicidade, da leveza de ânimo, do companheirismo...
O riso perdeu aquele elã vital, como que sumiu do rádio, da televisão; os ditos programas humorísticos viraram programas chatos, artificiais, num país de excepcional história de humoristas que marcaram época; em poucas décadas sumiram da cena, e fazer graças virou tarefa, a bem dizer, impossível de voltar a acontecer.
Mais atrás, no calendário, havia os circos nas praças e seus felizes picadeiros, doses cavalares de gargalhas povoadas de palhaços espirituosos, algo típico de um tempo esperançado; linguagem das ruas, dos botequins, alcovas, numa festa inigualável de um Brasil de música inteligente, festas de largo preenchidas de foguetes e felicidade popular.
Quero crer, em face das mudanças climáticas que sacodem o Planeta em bases inesperadas, nisso venha nova safra de animação pelo ar, lembrando os sonhos mágicos da tecnologia nos três séculos transcorridos da Revolução Industrial, que chegou prometendo a democracia dos frutos do trabalho deste mundo.
E para conhecer mesmos os índices de desenvolvimento humano de um povo, observe-se a espontaneidade do riso e das suas comemorações nas conquistas sociais. Pois, no dizer do escritor Oswald de Andrade, a alegria é a prova dos nove.

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