Estamos numa revista de cultura. Esta palavra na borda da linha. Que tanto fala em antropologia, como sociologia e política. Que diz arte, artesão e produção. Que pode ir da filosofia a uma mera tecnologia (ou técnica). Que fala, por contigüidade, em educação e comportamento. Mas então é que tomarei um núcleo para me fazer entendido: a alma de um povo. Vejam que alma é aquilo externo ao corpo e o externo, ou a anima, é a construção coletiva, em sociedade, de uma visão de mundo. De nós no mundo.
Então, agora, tomemos dois movimentos: em primeiro o movimento secular ou milenar que num dado território construiu uma cultura, ou a alma de um determinado povo. O segundo movimento tem natureza universal de aculturação (modificação cultural) que pareceu originar-se no ocidente europeu (com a modernidade) e soterra todas as culturas daquele primeiro movimento.
Qual seria a “mecânica” do segundo movimento, que passo a chamar universal ou global? Em primeiro lugar o antropocentrismo (no renascimento), logo a seguir, colado ao primeiro, o individualismo (independente da hierarquia); em terceiro os estados nacionais (independente de Deus e dos Monarcas); em quarto a razão como uma regra universal; em quinto a libertação individual e coletiva da produção agropecuária; em sexto a ciência e a tecnologia de base científica.
Quando dizemos educação para todos, estamos falando em superar os velhos arranjos culturais, aqueles remanescentes e “arcaicos” ou os rebeldes que pretendem uma alternativa àquela “mecânica” universal. Por exemplo, o índio, faz parte do primeiro movimento a ser superado pelo segundo movimento universal. Assim como todos aqueles símbolos tão caros a setores sensíveis das classes médias e populares: xamãs, avatares, cultura folclórica etc.
Se falarmos em saúde pública, praticamente dizemos medicina técnico-científica e esta provoca enormes efeitos sobre as culturas básicas ou originais ou as tradicionais ou qualquer nome que se queira para as culturas de base territorial e não universal (ou global). Um exemplo: na Índia até 1974 havia uma Deusa da Varíola, chamada Shitala Mata, milenar, com milhares de templos, profundamente enraizada nas vilas rurais. Naquele ano a OMS partiu para a erradicação final da varíola, toda a Índia foi mobilizada, as escolas especialmente e o resultado: a vacina superou um mito milenar.
Poderíamos desdobrar isso em tudo: na moda, nos hábitos, no trânsito, na alimentação, nas artes e assim por diante. Fiquemos com a idéia que a modificação cultural globalizada não é mais apenas mero efeito do colonialismo e do imperialismo (embora os tenha como forte veículo), é, agora, algo parecido com um grande espelho no centro da humanidade a dispersar reflexos em todas as direções. Parece que por vezes tem alguma origem mais definida, mas logo a seguir, receberemos reflexos secundários vindo de outras fontes.
Enfim, isso tudo no remete para uma grande necessidade de consciência deste enorme espelho. Uma consciência que procure compreender-lhe as dinâmicas, que perceba os perigos inerentes, pois a capacidade de continuar a construir cultura não cessou. Apenas estamos na fase em que todos os humanos se tornaram interdependentes e, por isso mesmo, não podendo se resumir à mera padronização burocrática de meios e recursos.
Então, agora, tomemos dois movimentos: em primeiro o movimento secular ou milenar que num dado território construiu uma cultura, ou a alma de um determinado povo. O segundo movimento tem natureza universal de aculturação (modificação cultural) que pareceu originar-se no ocidente europeu (com a modernidade) e soterra todas as culturas daquele primeiro movimento.
Qual seria a “mecânica” do segundo movimento, que passo a chamar universal ou global? Em primeiro lugar o antropocentrismo (no renascimento), logo a seguir, colado ao primeiro, o individualismo (independente da hierarquia); em terceiro os estados nacionais (independente de Deus e dos Monarcas); em quarto a razão como uma regra universal; em quinto a libertação individual e coletiva da produção agropecuária; em sexto a ciência e a tecnologia de base científica.
Quando dizemos educação para todos, estamos falando em superar os velhos arranjos culturais, aqueles remanescentes e “arcaicos” ou os rebeldes que pretendem uma alternativa àquela “mecânica” universal. Por exemplo, o índio, faz parte do primeiro movimento a ser superado pelo segundo movimento universal. Assim como todos aqueles símbolos tão caros a setores sensíveis das classes médias e populares: xamãs, avatares, cultura folclórica etc.
Se falarmos em saúde pública, praticamente dizemos medicina técnico-científica e esta provoca enormes efeitos sobre as culturas básicas ou originais ou as tradicionais ou qualquer nome que se queira para as culturas de base territorial e não universal (ou global). Um exemplo: na Índia até 1974 havia uma Deusa da Varíola, chamada Shitala Mata, milenar, com milhares de templos, profundamente enraizada nas vilas rurais. Naquele ano a OMS partiu para a erradicação final da varíola, toda a Índia foi mobilizada, as escolas especialmente e o resultado: a vacina superou um mito milenar.
Poderíamos desdobrar isso em tudo: na moda, nos hábitos, no trânsito, na alimentação, nas artes e assim por diante. Fiquemos com a idéia que a modificação cultural globalizada não é mais apenas mero efeito do colonialismo e do imperialismo (embora os tenha como forte veículo), é, agora, algo parecido com um grande espelho no centro da humanidade a dispersar reflexos em todas as direções. Parece que por vezes tem alguma origem mais definida, mas logo a seguir, receberemos reflexos secundários vindo de outras fontes.
Enfim, isso tudo no remete para uma grande necessidade de consciência deste enorme espelho. Uma consciência que procure compreender-lhe as dinâmicas, que perceba os perigos inerentes, pois a capacidade de continuar a construir cultura não cessou. Apenas estamos na fase em que todos os humanos se tornaram interdependentes e, por isso mesmo, não podendo se resumir à mera padronização burocrática de meios e recursos.
Meu caro, José do Vale, pensamento muito pertinente.
ResponderExcluirÉ incrível como os efeitos da quebra de fronteiras se fazem sentir quase que de forma imediata, as interações se tornaram ambíguas, individualizadas ao mesmo tempo em que totalizadoras. A colcha de retalhos que vivenciamos na cultura é abismal.
Outro dia, em sala de aula - de literatura, sobre o pós-modernismo-, a cultura popular se tornou tema repentino e eu fiquei mediando a situação, mesmo fora do programa, mas dentro dos interesses gerais. Foi quando um aluno disse para o outro, em tom de reprovação: "Você devia ter consciência de identidade cultural, essa postura de ficar cultuando reisado é pura aculturação, pois o reisado é uma manifestação de submissão ao invasor branco."
Eu intervi e perguntei pra ele, então, se o processo histórico não conta na formação cultural de um povo. Ele respondeu que pra ele só o presente interessa.
Muito emblemático, não?
abraços
Caro Leonel,
ResponderExcluirEstou numa empreitada gostosa de se encontrar, mas difícil de chegar ao fim. Tento compreender o intervalo de tempo entre 1967 e 1980, que é o objeto do texto: a aventura de um casal na erradicação da varíola no Brasil, Índia e Etiópia. Os últimos grandes países a erradicar uma doença pela primeira vez na história humana.
Este intervalo está sendo fundamental para rever certos padrões com que se interpreta a interferência entre si dos povos. A primeira, e mais evidente, aquela do colonialismo e do neocolonialismo na África e Ásia e a segunda a do modelo imperialista, aí com alguma dificuldade já. Acontece que o modelo imperial já se contaminava, no pós-guerra, com vários atores agindo numa mesma base geral que era a Guerra Fria. Que tudo leva a crer foi uma forma de instituir a disputa, já na prespectiva de uma Governança Global. A própria erradicação da varíola, no meio mais agudo da guerra fria (guerras de descolonização na África, guerra do Vietnã, os cismas no subcontinente Indiano, oriente médio etc.) foi uma governança global pelos parâmetros mais esdrúxulos para o nosso raciocínio clássico.
Este texto é parte desta reflexão. De certa "institucionalidade" de uma "cultura global", ainda lida por nós nos parâmetros da modernidade, mas que seguramente não perdeu certos sinais da história dos povos. Por isso é um momento muito rico. Temos de debater muito e conhecer ainda mais.
Por último. Você tem feito falta aqui neste espaço. Não estou fazendo cobranças pois todos temos os nossos fardos para consumir tempo. Mas sempre que possa vamos nos exercitar. Não apenas por que sejamos caririense, mas sobretudo por nossas presença no mundo.