sexta-feira, 2 de julho de 2010

Exploração 2 a 1 no Valor Humano - José do Vale Pinheiro Feitosa

Ronaldo Fenômeno casando-se, num castelo francês, com a modelo Cicarelli. Esta frase revela muito: a farsa, o comércio de celebridades, o vazio existencial para quem isso é importante.

Quando no salão de beleza, ali perto do mercado central de Paracuru, uma portinha com pintura descascada e um cubículo suado, a freguesa abre as páginas amarrotadas da Revista Caras, navega seu espírito nas ondulações de uma fantasia de progresso.

Aí a Seleção Brasileira, ou melhor, o time em campo, que não tem um único jogador fazendo gol para um torcedor brasileiro, em qualquer estádio do nosso território, se desclassifica. Ficamos com a sensação do comércio de celebridades. Derrotadas, mas celebridades.

Agora junte tudo e terá o espelho do verdadeiro problema. E já vou avisando, eu estou avisando: trate logo de andar com as próprias pernas e ter cabeça para andar na escuridão. Acontece que o problema está onde você pensa que vem a luz.

Veja este relatório sobre o Tráfico de Pessoas para a Europa para fins de Exploração Sexual, divulgado, a 29 de junho, pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC): existem cerca de 140 mil mulheres vítimas do tráfico para exploração sexual. São 70 mil novas vítimas do crime organizado.

Esta máquina de exploração da mulher realiza cerca de 50 milhões de programas sexuais por ano, a um valor médio de 50 euros cada. No total, isso representa um lucro anual que atinge 2,5 bilhões euros, ou seja, o equivalente a R$ 5,5 bilhões.

A maior parte vem de regiões vizinhas, como os Bálcãs (32%) e países da antiga União Soviética (19%). A América do Sul aparece em terceiro lugar (13%). Segundo o relatório, é cada vez maior o número de brasileiras traficadas. Em seguida, aparece a Europa Central com 7%, África, com 5% e Leste Asiático com 3%.

Os grandes eventos culturais, especialmente quando associados ao turismo e lazer, se tornaram, junto com o consumo de drogas, um dos mecanismos mais degenerados de exploração de um ser humano pelo outro. E certamente o progresso que as pessoas esperam não se traduze por tais práticas.

Por isso mesmo estas coisas precisam ser denunciadas, demonstradas e revistas no âmbito da civilização ou por mecanismo revolucionários que superem a exploração, qualquer que seja como prática hedionda. Não pode haver uma exploração que justifique a que se adjetive como nefasta.

A Europa há muito que não é o espelho de nada. A barbárie nazi-fascista já lhe tirara alcunha de “acima de qualquer suspeita”. Agora, menos ainda e, certamente, luzes terão que sair de nós mesmos aqui na adolescente e amarfanhada América Latina.

2 comentários:

  1. Muito bem, Zé do Vale. Excelente texto, na hora certa.

    Abraços,

    Dihelson Mendonça

    ResponderExcluir
  2. "Da América (Latina)sou filho: a ela me devo." José Martí

    ResponderExcluir