quinta-feira, 8 de julho de 2010

Fronteiras

Se não houver coragem no lombo
e no lóbulo frontal
não se caminha
atento.

Os pássaros quando tombam
despencam na calçada.
Não têm outra chance.

Tu tens duas pernas.
Caminha, homem.

Segue teu dedo em riste.
Teus olhos vermelhos.
Tua boca torta.

Abraça o vento da manhã.
Mas deixa-o passar.

As plantinhas da varanda
já resmungam.

A cafeteira desligada
é um desânimo que dói
na alma.

Sempre em frente, seu moço.
Não pises com tanta força
sobre as folhas secas.

Debaixo delas
bostinha de poodle.

Tu andas de chinelão
com frequência
entre teus dedos
gravetos de oiticica.

Quando tu te deitas
(sinto dizer) apenas
teus pensamentos
te veem.

Então tu te enrolas todo
pensando coisas invisíveis.

Tu não dormes
graças a deus
nem roes
as unhas.

Antes névoas,
hoje janela aberta.

E se porventura
o céu escurece
e as nuvens
cospem na vidraça

é bom tirar as botas
do parapeito.

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