quinta-feira, 29 de julho de 2010

pulpifex maximus


1933 foi um ano ruim
a porta se abriu para a lavanderia, o banheiro ficava do lado oposto. lavei e enxaguei as mãos e comecei a voltar para a cozinha. um varal que corria por toda a extensão da lavanderia me chamou a atenção. nele estavam penduradas uma dúzia de calcinhas, como um bando de meninas risonhas. algumas eram azuis, outras cor-de-rosa, umas eram brancas e outras ainda, douradas. eramdelicadamente pequenas demais para serem da senhora Parrish. não poderiam adornar ninguém senão a glória da minha vida, as sedas sagradas da minha bem-amada. CARAMBA! eu estava satisfazendo todos os meus desejos a respeito de Dorothy naquela noite! acompanhei o varal de um lado a outro, deixando cada uma roçar o meu rosto. acariciavam as minhas narinas, despentearam o meu cabelo. eram doze. tantas... e eu não tinha nenhuma, nem mesmo uma para guardar como troféu, para servir de recordação. a dourada atraiu meu olhar. tinha as bordas rendadas de preto, suaves como plumas, doces como um papafigo. uma pra mim, onze para Dorothy; era mais do que justo. soltei os prendedores e enfiei-a debaixo da camisa. senti-a junto da pele, respirando ali, aconchegada e feliz.
(john fante)

2 comentários:

  1. Entendi e adorei,só nunca entendi, de verdade essa mania por ter consigo uma calcinha, porque????????????Se você não souber será que Freud explica?
    Ha! estou sentindo a falta de sua visita, não me deixe passar fome...
    Um abraço gracioso.
    Íris Pereira

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  2. íris, realmente este fetiche por calcinhas ( e outras peças) eu não entendo (freud deve explicar). gosto de calcinhas adornando os seus devidos corpos.
    pois é, não fui mais lhe visitar em sua "casa". quando menos você esperar bato levemente na sua porta. já tenho as chaves.
    grande abraço.

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