MÃOS
há mãos que fazem medo
feias agregações pentagonais,
umas, em sangue, a delinquentes natos,
assinalados pelo mancinismo,
pertencentes talvez. . .
outras, negras, a farpas de rochedo
completamente iguais. . .
mãos de linhas análogas a anfractos
que a natureza onicriadora fez
em contraposição e antagonismo
às da estrela, às da neve, às dos cristais.
mãos que adquiram olhos, pituitárias
olfativas, tentáculos sutis,
e à noite, vão cheirar, quebrando portas
o azul gasofilácio silencioso
dos tálamos cristãos.
mãos adúlteras, mãos mais sanguinárias
e estupradoras do que os bisturis
cortando a carne em flor da crianças mortas.
monstruosíssimas mãos,
que apalpam e olham com lascívia e gozo
a pureza dos corpos infantis.
(augusto dos anjos)
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