sábado, 14 de agosto de 2010

Brumas

Prometo então que te deixarei
tão vã quanto desconhecida
abstrata
sem nome.

Não te apartarei dos sentidos
da falta e da ausência
nem do pleno vazio.

Prometo então que te deixarei
andar com as próprias asas
e guardarei meus óculos
embaçados de gordura
e de lágrimas.

Dentro do banheiro
ao observar as formiguinhas
desesperadas com a minha voz
correndo entre cantos e fendas

levantarei os pés cauteloso
para que elas se cuidem
sob meus chinelos.

Sei o quanto é doloroso
quebrar costelas e contorcer-se
rodopiando pelo frio do piso.

Prometo então que te deixarei
oculta no meu depressivo silêncio
também nos meus particulares sussurros.

Não te forjarei outra vida
nem ousarei aflorar a sequidão
dos meus lábios.

Serás o de sempre:
névoa e pedreira
sobre ombros
colada nos cílios.

Prometo então que te deixarei
em paz, rica e perfumada
a zombar da minha angústia.

Não é bom nem vistoso
o sangue do meu nariz.

3 comentários:

  1. domingos,só agora percebo como as formigas são recorrentes na sua poesia. freud explica !?
    um abraço e ótimo retorno.

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  2. Lupin, talvez seja
    porque as formigas
    se deixam levar
    pela ventania
    sem lhes quebrar
    tantas costelas.
    Ou quem sabe
    por longa convivência
    entre mim e elas
    desde a infância.
    Freud não explica
    embora também adore
    conversar e admirar
    as formiguinhas
    pelo divã.

    Forte abraço,
    meu camarada.

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  3. sei que tem também um pintor famoso que usa muito as formigas em seus trabalhos.
    acho que era o SALVADOR DALÍ porém, não posso afirmar com a plena certeza.

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