quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Eunuco

Deste velho poeta
terás apenas uma alma
nunca contente
confidente das nuvens
e das sombras do cotidiano.

Meu voo é raso,
minhas asas simples:
não ultrapasso a janela do banheiro
sem arranhões nos ombros.

Trago um sinal acima do lábio direito
e um par de olhos mais loucos que tristes.

Deste velho poeta
terás apenas um corpo febril
carne pronta ao abate
dos sonhos.

Meu contentamento
sempre solitário:
tremo, cãibras
limpo as cerâmicas
do quarto
com a toalha
de enxugar os pés.

Deste velho poeta
terás apenas a solidão
de filhos órfãos e marginais.

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