Deste velho poeta
terás apenas uma alma
nunca contente
confidente das nuvens
e das sombras do cotidiano.
Meu voo é raso,
minhas asas simples:
não ultrapasso a janela do banheiro
sem arranhões nos ombros.
Trago um sinal acima do lábio direito
e um par de olhos mais loucos que tristes.
Deste velho poeta
terás apenas um corpo febril
carne pronta ao abate
dos sonhos.
Meu contentamento
sempre solitário:
tremo, cãibras
limpo as cerâmicas
do quarto
com a toalha
de enxugar os pés.
Deste velho poeta
terás apenas a solidão
de filhos órfãos e marginais.
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