segunda-feira, 9 de agosto de 2010

pulpifex maximus


claro que todo mundo pensa que o brasileiro é o rei dos otários. e é. um povo que aceita o ensino e a saúde como instituições mercenárias intocáveis e intocadas é otário. como no caso dos remédios, por exemplo, que custam os olhos da cara. a cara e a coragem de quem os compra. pra começar, no Brasil se compra qualquer remédio sem receita. pode ser até que o dono da farmácia - que nem farmacêutico é, que nem farmacêutico de plantão tem (como manda a lei) - afirme: "comigo tem que ter receita. o estoque é controlado pelo Ministério da Saúde e não vou me arriscar".
controlado sim, mas em termos. porque não são poucas as grandes redes farmacêuticas que compram estoques
inteiros que os ladrões roubam nas estradas, assaltando caminhões. um negócio em que todos ganham. ou não perdem nada. como os laboratórios, que embarcam suas cargas seguradas. seguro esses que não raramente são fraudados. o laboratório diz que a carga roubada era de 500 mil envelopes de aspirina, mostra um recibo fajuto e fatura cem vezes mais do que perdeu. os laboratórios aprenderam isso com os bancos, que quando são assaltados declaram perdas muito maiores. o seguro paga tudo, aspirina e dinheiro.
mas voltemos ao assalto: o marginal faz a carga dos caminhões de remédios. e negocia com as redes farmacêuticas que, sabendo da origem da mercadoria, pagam um centésimo do preço. um grande negócio, sem recibo e, portanto, sem imposto. e nesse embalo, qualquer remédio que normalmente teria que ser comprado com receita vai junto com as aspirinas...
bom, essa é asacanagem do varejo. falta a do atacado, que vem direto dos laboratórios, que empurram na praça as suas últimas novidades, protegidas por bulas só compreensíveis por quem é do ramo. ou seja: os médicos e não os pacientes.
digamos, por exemplo, que você tenha uma inflamação. ou uma alergia causada por outro remédio. o médico apalpa aqui, apalpa ali e decreta: "vamos receitar um remedinho a base de acetato de betametasona e fosfato dissódico de betametasona. é tiro e queda".
claro que o doente fica impressionado. e sai dali convicto: "que cultura tem o doutor!"
o cara compra o remédio e encontra uma bula enorme, impressa em corpo 6, letra pequenininha, instruções pra cacete.
põe-se a ler. e leva logo o primeiro choque: na lista das indicações, quatro linhas: "indicado na terapia de doenças moderads e severas, em doenças agudas e crônicas auto limitadas, responsivas aos esteróides sisméticos..."
aí o paciente empaca. e medita: "pô, o doutor nunca me disse se a minha alergia é moderada ou aguda. e muito menos que seja responsiva aos esteróides sisméticos..."
já aí, o primeiro emputecimento: "que porra é essa de esteróide sismético?..."
na lista das contra - indicações, cem linhas de um lado e do outro da bula. e pérolas da farmacologia universal, como essa que o nosso doente encontrou a letras tantas: "...como a produção mineralocorticóide pode estar comprometida, recomenda-se a administração conjunta de sódio e/ou agentes minerolocorticóides".
jogou o remédio no lixo. esteróides sisméticos e mineralocorticóides numa dose só, era muito demais para ele.
preferiu salvar-se com um chá de boldo.
(ney bianchi)

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